Visual Concepts pegou o que funcionava e consertou o que precisava ser consertado — não transformou radicalmente a série, mas fez ajustes cirúrgicos que mudam muita coisa na hora de jogar. NBA 2K26 não é uma revolução; é uma sequência que respira melhor, reage melhor e, o mais importante, diverte mais. Ainda tem os mesmos problemas crônicos das últimas edições — microtransações continuam um câncer — mas se você, como eu, vive pelos shooters competitivos e por sensações táteis na jogabilidade, vai achar que essa iteração vale a pena. Quer saber por que? Vamos destrinchar.
O que eu disse sobre o NBA 2K25
No ano passado eu já tinha apontado que o núcleo do jogo permanecia reconhecível: mecânicas básicas semelhantes, modos que voltam ano após ano. Contudo, 2K25 trouxe avanços interessantes como Go-To Moves, Rhythm Shooting e perfis de timing que deixaram as partidas mais desafiadoras e variadas. MyCareer continuou sendo o carro-chefe da experiência single-player, com a nostálgica volta do Streetball e o enredo Heart of a Dynasty — sinais de que a equipe estava tentando devolver peso à narrativa solo. Ainda assim, microtransações continuavam sufocantes, sobretudo na progressão online; a única luz foi a volta do Auction House no MyTeam, que abriu espaço pra conquistar cartas sem gastar VC. Em resumo: 2K25 era como a fase tardia de uma lenda — você sabe o que esperar, mas ainda tem momentos inspirados.
Verde e ligeiramente curvado
Se tem uma mudança que altera fundamentalmente a dinâmica de jogo, é o novo shot meter. Para quem jogou 2K25, você sabe do que eu tô falando: aquele medidor com dial/arrow/ring era sofrido. 2K26 volta pra uma barra curvasinha, mais parecida com 2K23, mas não é um simples retrocesso — é uma evolução. A barra agora é dinâmica: a área verde (o “sweet spot”) ajusta-se conforme a cobertura defensiva. Tem defensor colado em você? A janela verde encolhe quase até sumir. Está aberto? A janela respira e você tem uma margem maior pra acertar. Isso traz uma consequência imediata: timing volta a ser relevante de verdade.
Do ponto de vista técnico, o que a equipe de desenvolvimento fez foi recalibrar a janela de tolerância do input do jogador e ligá-la a variáveis de jogo (contato do defensor, estabilidade dos pés, movimento do arremesso). O resultado prático é que arremessos agora são previsíveis e dependem mais da situação do que de um RNG chato. Você sente que fez o movimento certo quando o jogador solta a bola, e isso melhora a satisfação de green. Eu tenho me divertido muito mais lançando de três esta temporada porque, pela primeira vez em anos, sinto que minhas decisões e meu timing importam de verdade.
Mas claro: nada é perfeito. Como a janela verde costuma ser maior quando você está livre, isso eleva o patamar de expectativa — se você erra por pouco, a penalidade é severa. Traduzindo: margem de erro pequena, recompensa alta. Isso muda a meta do jogo. Arremessadores que dependem de “spray and pray” vão sofrer; jogadores que constroem ritmo, usam movimentação off-ball e criam espaço vão ser privilegiados. Em termos de competitividade, isso favorece jogadores que entendem conceito de “momentum” ofensivo — e pune a tentativa descarada de arremessar sob pressão.
Pra quem compete online, isso tem outra implicação: defesa de contest rápido volta a ser uma arma de verdade. Antigamente você podia contestar sem muito efeito; agora, fechar com um kicker ou mesmo atrapalhar o equilíbrio do arremessador reduz consideravelmente a probabilidade de green. Em resumo: o metagame tende a valorizar defesa inteligente e criação de espaço antes do tiro.
Dicas práticas: (1) crie espaço com drible e movimentação lateral antes de puxar o gatilho; (2) se você estiver sendo contestado, prefira criar para o passe ou atacar o aro; (3) use jogadores com alto shot timing e badges que reduzam a penalidade de contest. A curva de aprendizado existe, mas ela recompensa quem domina o timing.
Movimentação, movimentos e o Sombor Shuffle
Uma das reclamações constantes da comunidade era a sensação de “roupa molhada” no movimento dos jogadores em 2K25 — animações que pareciam travadas, transições rígidas e uma física que não favorecia fluidez. 2K26 resolve isso com melhorias notáveis na blendagem de animações e resposta de input. O movimento geral agora tem mais inércia realista, mas sem sacrificar responsividade: cortar, armar a jogada e voltar pra defesa ficou mais natural. Se você já sentiu que corria em areia movediça no 2K25, prepare-se pra correr com sola nova.
Isso também colocou em evidência uma das mecânicas novas que eu mais curti: Go-To Post Shots. Aquela promessa de dominar a área pintada com movimentos que imitam as assinaturas de jogadores como Nikola Jokic e Joel Embiid está finalmente próxima do que a gente espera. E sim, eu venho usando — e abusando — do famoso Sombor Shuffle. A animação é uma combinação de posicionamento de corpo, footwork e fake que cria espaço suficiente pra finta e arremesso curto do post. Visualmente é satisfyingly methodical; na prática, é uma rota predatória contra AIs e jogadores que ainda não neutralizaram post-ups.
Do ponto de vista técnico, os desenvolvedores trabalharam em camadas: (1) footwork individual mapeado por jogador, (2) probabilidades de reação do defensor baseadas em atributos e badges e (3) timeout de repetição pra evitar spam absoluto. Isso significa que, embora você possa explorar a Sombor Shuffle e outras post moves, a defesa IA/presença de adversário humano ainda tem chance de aprender e reagir — então não é overpowered eterno. Ainda assim, por enquanto, sou a churrasqueira do jogo: o post virou meu território de domínio.
Em defesa, as mudanças são tão bem-vindas quanto no ataque. O sistema de contest voltou a ser eficiente sem depender de sempre fazer blocos espetaculares. Controle de posicionamento, timing de mãos e leitura de ángulos são mais recompensados. Isso diminui a sensação de movimentação robótica e aumenta a parcela de decisões humanas que determinam o resultado de uma posse.
Goodbye, Yellow-Brick Road — offline em peculiar decadência
Se tem uma parte do jogo que me deixou irado, é o tratamento dado aos modos offline. MyNBA e MyGM parecem receber pouca atenção criativa desde 2K25; neste ano, a grande “novidade” são os Offseason Scenarios para o MyGM — metas específicas da offseason que você precisa cumprir para agradar torcida e dono. A intenção é boa: dar objetivos de longo prazo que moldem a narrativa da franquia. A execução? Nem tanto.
Os cenários são previsíveis e, em muitos casos, tão artificiais que mais atrapalham que ajudam. A tentativa de gamificar operações de front office com sistemas RPG (perks, pontos de atributo, árvores de habilidades) soa deslocada. Em teoria, esses elementos deveriam deixar decisões administrativas mais estratégicas; na prática, a diferença que eles fazem na gestão do time é quase nula. Você ainda cai, no final das contas, na mesma equação de sempre: vencer jogos e empilhar títulos. A sub-trama de “pegar o dono feliz” não compensa a perda de profundidade estratégica.
Para quem jogava MyGM esperando uma experiência de simulação robusta — negociação de contratos, scouting apertado, gestão de morais, desenvolvimento a longo prazo — a sensação é de um solo promissor mal trabalhado. O modo virou um instrumento que tenta ser várias coisas ao mesmo tempo e não faz nenhuma com perfeição. Como disse na minha analogia favorita: MyGM virou o baixo numa banda que resolveu fazer solo de slap por três minutos — uma escolha que irrita parte do público.
Se você é como eu e ainda curte offline mais que online, isso é decepcionante. Não é que esses modos sejam completamente inúteis; eles continuam operacionais e divertidos em sua essência. Só não evoluíram o suficiente pra justificar o mesmo carinho que a equipe deu a mecânicas de tiro e movimentação.
Um amigo velho — The City e MyCareer revisitado
Agora algumas coisas boas. The City recebeu uma otimização que faz a experiência valer o tempo. Antes, ir de um canto ao outro do hub era um teste de paciência; agora, interconexões e distâncias reduzidas tornam tudo muito mais acessível. Você passa menos tempo andando e mais tempo jogando, treinando ou interagindo. Isso melhora a retenção: mais partidas, mais grinding, menos frustração.
MyCareer, por sua vez, trouxe Out of Bounds — um enredo que, finalmente, dá consequência às suas performances. Ao contrário de histórias passadas onde as partidas eram meramente cenário, aqui suas decisões e atuações influenciam seu caminho ao draft. Você começa no meio do nada, em Vermont, e precisa construir reputação jogando na base, depois na Europa, com escolhas reais entre times como Basquet Madrid ou Paris FC Basket. Isso traz de volta a sensação realista do processo de ascensão ao profissionalismo: erros têm preço, escolhas importam e a jornada parece plausível.
Essa ênfase na progressão orgânica reacende o que tornou MyCareer empolgante em 2K10 — aquela mistura crua de sonho e sacrifício. Eu já tô pensando em um segundo run só pra ver como escolhas diferentes mudam o rumo da carreira. Uma crítica persistente: ainda falta uma opção de jogar faculdade (NCAA-style) antes de ir pra Europa. Eu, pessoalmente, quero ser o número 1 do draft vindo do “one-and-done”. Ah, e sobre o comentário metafórico de Mick Jagger que eu joguei lá no review anterior, vale repetir em versão traduzida, porque ilustra bem essa frustração com o que não temos: “Você não pode sempre conseguir o que quer, mas se tentar às vezes, quem sabe um dia teremos um jogo universitário da EA.” — Mick Jagger
No geral, Out of Bounds é o melhor enredo de MyCareer em anos. Ele não corrige a questão das microtransações, mas ao menos devolve propósito e peso às partidas individuais e à carreira do seu jogador.
Não há vitória nas microtransações
E aqui chegamos ao ponto que ninguém esquece: microtransações. A situação é tão previsível quanto triste. MyCareer continua sufocado por VC e sistemas que transformam progresso em produto. Quer um 99 OVR? Prepare a carteira: cerca de 500.000 VC (o que os devs estimam em loop de loja) custa algo em torno de 120 dólares. Precisa de outro build? Isso significa gastar mais. O design do sistema é deliberadamente viciante e predatório: comprar uma vez facilita comprar de novo, em um ciclo que se alimenta sozinho.
Microtransações não são só irritantes — são projetadas para incentivar gasto contínuo, e isso mata a parte do jogo que era sobre mérito e tempo investido. No MyTeam, a situação não é diferente. Assim que você abre o modo, é bombardeado por Season Pass, promoções de VC e pacotes caros. A inclusão de jogadoras da WNBA é uma adição positiva — terim Kelsey Plum já no plantel inicial, por exemplo, ajuda quem não quer gastar rios de dinheiro. Ainda assim, não cancela a presença de pacotes caros e ofertas que empurrrão o jogador na direção do cartão de crédito.
A parte perversa é que, embora técnicas de grind existam e sejam viáveis, a sensação de “sempre faltar algo” faz você considerar a compra. Visual Concepts e a distribuidora têm mecanismos de incentivo que exploram a escassez e o desejo de estarmos no topo. Enquanto jogadores continuarem comprando, nada mudará.
Então o que eu recomendo? Se você jogar por diversão e tiver disciplina, ignore a loja e foque em completar desafios e metas semanais. Se competir online, prepare-se: alguns rivais vão sim ter vantagens pagas. E a comunidade precisa continuar pressionando por alternativas mais justas de progressão.
Para fechar esse tópico técnico: do ponto de vista de design de sistemas, a solução óbvia é aumentar recompensas de jogo, introduzir caminhos legítimos e contínuos para obtenção de itens raros sem gastar dinheiro real, regular a velocidade de progressão dos modos pagos e, idealmente, reduzir o peso do VC na construção de builds essenciais. Mas isso implicaria em mudança de modelo de receita, algo que o mercado ainda não forçou as publishers a adotar.
O veredito: jogar NBA 2K26 é divertido, o núcleo está polido, mas a experiência completa é manchada por escolhas comerciais que minam a longevidade.
As melhorias na física de movimento, no shot meter e na interação com o hub fazem de 2K26 uma das entradas mais jogáveis dos últimos anos. Se você é mais do estilo competitivo, vai sentir imediatamente as diferenças no court: arremessos mais justos, defesa que finalmente conta e post game que é uma alternativa viável e gratificante. Se você prefere offline, vá com calma: MyGM/MyNBA precisam de atenção. E se sua paciência com microtransações já estava no limite, 2K26 não vai curar essa ferida — só a esteticamente disfarça em alguns modos.
No fim das contas, Visual Concepts apresentou um título que respeita o que deu certo e arrumou o que estava mais feio. É um passo pragmático na direção certa — nada de roteiro épico, mas muitas melhorias técnicas e de jogabilidade que me fizeram voltar horas a fio. E você, qual foi a primeira coisa que você notou ao jogar? Arremessos? Movimentação? Ou foram as microtransações que te fizeram cerrar os dentes?