O episódio da bag do Fallout 76 é um daqueles casos que viraram folklore entre jogadores: lançamento conturbado, conteúdo de colecionador caro e uma promessa que não se cumpriu. Pete Hines, ex-vice-presidente sênior de marketing e comunicações globais da Bethesda — que anunciou aposentadoria em 2023 — revisitou o assunto e deixou claro que a história da Power Armor Edition e da tal bolsa de lona foi, na visão dele, um dos maiores erros da carreira na empresa.
Quando a edição Power Armor foi anunciada, o pacote prometia capacete T-51B, caixa de metal exclusiva, miniaturas colecionáveis e uma mochila West Tek Duffel em lona. Quem pagou ~US$200 esperava um material premium consistente com o preço. Mas no dia do lançamento muitos encontraram uma bolsa em nylon barata no lugar da lona. A reação da comunidade foi imediata: cancelamento de confiança, críticas fortes e pressão pública. A Bethesda acabou abrindo um formulário para quem quisesse a bolsa de lona de verdade — tentativa de conserto, porém tardia.
“Minha primeira reação foi: ‘Quando porra adicionamos uma bolsa de lona a esta edição de colecionador? Porque a versão que eu aprovei não tinha uma’.” – Pete Hines
Hines explicou que a mudança veio de uma tentativa de “adicionar mais valor” à edição, em meio a disputas internas sobre margem e preço. Em outras palavras: todo mundo batendo cabeça entre marketing, finanças e fornecedores. O grande problema não foi só o material errado — foi a comunicação interna e a demora em consertar.
“Havia literalmente uma falta de lona, e algumas pessoas decidiram que íamos colocar isso no lugar. Meu maior erro ali foi não ter pressionado imediatamente para fabricar e enviar uma bolsa de lona para todo mundo que quisesse. Porque eu ainda estava irritado por essa coisa estar lá e ninguém ter me contado que a falta de lona aconteceu.” – Pete Hines
Ele encerrou com uma autocrítica direta: “Provavelmente foi a coisa mais idiota que eu já fiz na Bethesda.” – Pete Hines É raro ver alguém de alto escalão assumir feio assim — e é um bom lembrete de que cadeias de suprimento e decisões de última hora podem explodir na cara de empresas e consumidores.
Fallout 76, porém, não ficou só nisso. O jogo em si teve um lançamento cheio de problemas técnicos e de design, mas ao longo dos anos a Bethesda entregou uma enxurrada de atualizações e conteúdo pós-lançamento — incluindo o recente CAMP Revamp — e hoje o multiplayer é visto por muitos com olhos mais amenos. No nosso review atualizado do ano passado, demos 7/10; nem ótimo, mas bem melhor do que o inferno de 2018.
E a lição? Além da óbvia sobre material de colecionador e expectativas do consumidor, tem uma mais técnica: quando a cadeia de suprimentos falha, a resposta precisa ser imediata e transparente. Não adianta só consertar depois. Agilidade e comunicação interna são tão importantes quanto o produto em si. Quer continuar confiando em edições de colecionador depois de histórias assim, ou você agora prefere gastar apenas no jogo base e evitar surpresas? Essa polêmica é um exemplo prático de como decisões operacionais afetam reputação e base de jogadores.
A história foi originalmente reportada por Michael Cripe na IGN, mas a lição é universal — para desenvolvedoras, publishers e, claro, para quem coleciona. Para quem acompanha lançamentos e edições especiais, fica um conselho técnico: pesquise fornecedores, entenda prazos e leia as letras miúdas antes de apertar o botão de comprar.