The Order of Giants chega como aquele DLC que te dá uma desculpa perfeita para voltar a um jogo single-player que você amou — e, no meu caso, Indiana Jones and the Great Circle é esse jogo. São cerca de quatro horas de conteúdo que funcionam como uma missão lateral pesada em quebra-cabeças, com um roteiro que te leva por cavernas, catacumbas e canais muito bem ambientados nos subterrâneos de Roma. Depois de meses sem pisar no Great Circle, voltei imediatamente fisgado. Será que um DLC curto pode devolver a sensação de descoberta sem reinventar a roda? Spoiler: aqui funciona, mas com ressalvas.
Como o DLC se encaixa
A primeira coisa a saber é que The Order of Giants não é um modo separado no menu – você acessa a missão dentro da própria fase do Vaticano. Isso dá uma impressão curiosa: por um lado, parece elegante encaixar esse conteúdo no começo da campanha; por outro, dá a sensação de cena deletada reinserida no filme. Para quem joga pela primeira vez, o conteúdo já estará lá desde o início; para quem retorna, é como assistir a uma cena excluída num Blu-ray. Essa escolha de implementação é inteligente, mas tira parte do brilho: o DLC passa a sensação de “não estava aqui antes, e também não muda nada agora”.
Do ponto de vista de narrativa e apresentação, MachineGames acerta ao dialogar com o que já existe na campanha principal. A missão se posiciona como algo do início da história do Great Circle, o que facilita a integração, mas também a faz parecer menos imprescindível. A narrativa não muda eventos-chave do jogo e, por isso, não cria urgência para quem só quer seguir a história principal. Ainda assim, a atmosfera e o design das áreas subterrâneas elevam a experiência: iluminação, acústica, e direção de arte criam aquele clima de arqueologia suja e misteriosa que todo fã de Indy espera.
Troy Baker entrega mais uma grande atuação como Indy e a trilha sonora permanece extremamente fiel às referências cinematográficas — elementos que, juntos, sustentam a imersão do começo ao fim.
Puzzles e combate
Se você veio atrás de combate novo ou mecânicas radicalmente diferentes, relaxa: The Order of Giants não vai reinventar o combate. A jogabilidade mantém o mix já conhecido de plataforma em primeira pessoa, furtividade básica e tiroteios contra soldados italianos e membros de um culto com robes vermelhos. Não há truques novos no combate — e isso é um ponto a notar para quem esperava algo mais ousado. O emparelhamento de tiroteios e esquivas é competente, mas previsível; o mini chefão final, por exemplo, acaba caindo num loop de correr, atacar à distância, repetir — divertido? Até certo ponto; cansativo? Sim.
Agora, os puzzles: esses são o coração do DLC. Os quebra-cabeças de The Order of Giants são o grande destaque e justificam a visita por si só. Dois deles me pegaram mais do que qualquer tentativa do Great Circle original: um quebra-cabeça de água muito bem projetado que envolve manipulação de fluxo e caminhos submersos; e outro que é basicamente um enorme labirinto de bolinhas onde você precisa guiar uma esfera em chamas sem perder o recurso — se cair, volta tudo. Existe também um enigma baseado em texto cuja ligação com os componentes físicos é meio obscura no começo, e que me fez sentir um idiota quando a lógica finalmente bateu. Não é todo dia que um puzzle te dá esse momento de “como eu não vi isso antes?”.
Quanto ao ritmo, o DLC é mais lento que as set pieces espetaculares do jogo principal — nada aqui tem a adrenalina de um sequestro de avião ou de uma descida alucinante. Isso pode decepcionar quem veio esperar grandes sequências de ação; por outro lado, se você curte pensar e vasculhar ambientes, vai agradecer a escolha do time por apostar pesado em quebra-cabeças e exploração.
O design de níveis merece destaque técnico: cada catacumba e corredor tem um trabalho de textura, iluminação e som que faz você parar pra ver os detalhes das paredes, marcas e entalhes. É daqueles projetos em que vale caminhar devagar e observar, algo que videogames mais frenéticos andam evitando.
“Indiana Jones and the Great Circle acerta praticamente tudo do melhor da franquia, desde o cartão de título e as fontes de localização até o gesto do dedo do Harrison Ford, mas os méritos vão além da fidelidade às menores referências dos filmes. Com níveis lindos e detalhados, combate satisfatório baseado em golpes pesados, e foco em exploração lenta, plataforma e resolução de puzzles, The Great Circle é uma caça ao tesouro global irresistível para fãs de Indy.” — Luke Reilly, 6 de dezembro de 2024
Pontuo isso porque o DLC repete essa mesma sensibilidade: reverência às referências, foco em ambientes e puzzles, e respeito à atmosfera clássica do personagem.
No geral, The Order of Giants é um respiro concentrado do que eu mais gosto na visão da MachineGames para Indy — exploração em primeira pessoa, desafios inteligentes e ambientação impecável. Mas não é imprescindível: ele não altera a história principal e sua integração direta ao ato inicial faz com que pareça mais um extra bem-feito do que uma expansão necessária.
E vale a pena? Se você curte quebra-cabeças bem desenhados e quer mais tempo imerso nessas catacumbas romanas, sim; se busca sequências de ação grandiosas, talvez não. Eu, pessoalmente, fiquei satisfeito por ter retornado: a aventura reacendeu o fascínio pelo design do Great Circle e me lembrou por que esse jogo merece espaço no HD. Quem sabe você não volta também — e fica curioso para revisitar cada canto em busca de pistas esquecidas?