Amazon corta 14.000 cargos, reduz New World e deixa em risco MMO de O Senhor dos Anéis

Amazon demite 14.000 empregados, afetando MMOs: New World reduz atualizações, MMO de O Senhor dos Anéis incerto. Foco muda para jogos leves, IA e experiências rápidas.
Escrito por:
Lucas Amaral

A Amazon anunciou um corte massivo de 14.000 cargos em 28 de outubro, e o impacto caiu pesado sobre a divisão de jogos da empresa. Entre demissões e reestruturações, o futuro de títulos internos fica nebuloso: New World já entrou num modo de sobrevivência, e o muito aguardado MMO de O Senhor dos Anéis agora é alvo de dúvidas reais. Neste texto eu destrincho o que aconteceu, por que isso importa para quem joga MMOs e o que pode sobrar da estratégia da Amazon em games.

A explicação oficial da Amazon aponta para uma mudança estrutural impulsionada pela IA. Em nota aos funcionários, Beth Galetti escreveu que, apesar dos bons resultados financeiros, a empresa precisa “ser mais enxuta” para acompanhar a transformação causada pela nova geração de IA. “Alguns podem perguntar por que estamos reduzindo cargos quando a empresa está indo bem. Esta geração de IA é a tecnologia mais transformadora que vimos desde a Internet, e ela está permitindo que empresas inovem muito mais rápido do que antes. Estamos convencidos de que precisamos estar organizados de forma mais enxuta, com menos camadas e mais autonomia, para nos mover tão rapidamente quanto possível para nossos clientes e negócios.” — Beth Galetti, Senior Vice President, People Experience and Technology, Amazon.

O reflexo imediato foi um corte “significativo” nas operações de videogame, com ênfase em MMOs e redução de equipes em escritórios-chave como Irvine e San Diego. Os sinais práticos aparecem em várias frentes: New World — que foi um raro sucesso da Amazon Games, chegando a 913.634 jogadores simultâneos na Steam em 2021 — agora tem seu desenvolvimento efetivo reduzido, com a promessa de manutenção dos servidores ao menos até 2026, segundo reportou a Bloomberg. Mas manutenção mínima não é o mesmo que investimento contínuo. Quando uma equipe é enxugada, correções, novos conteúdos e balanceamentos ficam em segundo plano — e isso é especialmente perigoso para um MMO, cujo ciclo de vida depende de atualizações constantes.

E o MMO de O Senhor dos Anéis? O projeto vinha sendo desenvolvido internamente e estava relativamente silencioso desde o anúncio em 2023. Christoph Hartmann, chefe da Amazon Games, já havia sinalizado cautela sobre como abordar a IP: “Ainda estamos tentando encontrar o gancho, a ideia do que é — porque não queremos apenas repetir o que já existe. É tentador às vezes usar uma IP conhecida, mas o ponto é encontrar um viés novo. Ainda acho que estamos nesse período de descobrir qual seria esse diferencial.” — Christoph Hartmann, Chefe da Amazon Games. A manchete da Bloomberg envolvendo cortes em MMOs, portanto, lança uma sombra sobre esse processo criativo: times menores implicam menos capacidade de experimentação e maior risco de o projeto nunca sair do rascunho.

A Amazon, no entanto, não está jogando fora tudo. Segundo apurações, a empresa vai focar em títulos com propostas mais “leves” ou orientadas por IA, além de seguir com alguns projetos estratégicos: o estúdio Montreal segue com March of Giants, Crystal Dynamics continua a trabalhar no novo Tomb Raider e o estúdio Maverick Games segue com um jogo de corrida. A Amazon Games também continuará a publicar jogos de terceiros no ocidente, como Lost Ark e Throne & Liberty, e pretende investir em experiências casuais e pensadas para sua plataforma de streaming Luna. Isso mostra uma mudança clara: menos apostas caras em MMOs longos e mais ênfase em experiências escaláveis e com potencial de monetização rápida.

Do ponto de vista técnico e de desenvolvimento, cortar pessoas em equipes de alto custo — design, engenharia de servidores, arte e live-ops — é um movimento que reduz o burn rate, mas aumenta latência de entrega. Para MMOs, onde infraestrutura, balanceamento contínuo e suporte a servidores são pilares, isso costuma levar à piora da experiência do jogador: mais bugs persistentes, menos eventos sazonais, economia interna desbalanceada e um ciclo de conteúdo mais ralo. New World é um caso clássico: começou com números astronômicos, depois viu queda sustentada por falta de conteúdo e problemas de design. A diferença agora é que a empresa pode não ter capital humano para reagir rapidamente.

Também há o elemento externo: Crystal Dynamics sofreu cortes relacionados a acontecimentos no mercado — como o cancelamento do reboot de Perfect Dark pela Microsoft — e já passou por demissões anteriores quando foi adquirida pelo Embracer Group. Apesar de Hartmann tentar tranquilizar dizendo que Crystal estaria “relativamente isolada” dos problemas de seu antigo grupo, a incerteza sobre fornecedores e parceiros é outra variável de risco para projetos de alto orçamento.

Para jogadores, a pergunta é simples: o que isso muda na prática? Se você joga New World, espere um ritmo menor de atualizações e potencial priorização por estabilidade sobre novos conteúdos. Se você aguarda o MMO de O Senhor dos Anéis, a notícia não é tranquilizadora — o tempo até um possível lançamento provavelmente vai esticar, e a ambição do projeto pode ser reduzida. E para quem curte Tomb Raider, o sinal é misto: o jogo segue em desenvolvimento, mas o ambiente ao redor do estúdio aumentou a volatilidade dos recursos.

No fim das contas, isso é mais um exemplo de como decisões corporativas e ondas tecnológicas — no caso, a chegada em massa da IA — reconfiguram o mercado de games rápido demais. Empresas grandes se reorganizam para se adaptar, e nem sempre os projetos criativos sobrevivem ao corte de custos. Resta perguntar: quem lucra com essa mudança de foco para experiências casuais e IA-first? E será que os grandes MMOs, que exigem investimento de longo prazo, voltam a ser prioridade quando a maré de inovação tecnológica se estabilizar?

O cenário está longe de resolvido. New World ainda funciona, alguns projetos seguem em andamento, mas a ambição da Amazon no espaço dos grandes MMOs sofreu um revés palpável. Para nós, jogadores, a tarefa é ficar de olho nas comunicações oficiais e nas atualizações dos estúdios — e, claro, questionar se a indústria vai valorizar mais o lucro de curto prazo ou continuar apostando em jogos que exigem paciência e músculo técnico para prosperar.