A discussão sobre IA generativa nos jogos está pegando fogo — e não só nos fóruns gringos. Recentemente, figuras do mercado afirmaram que os jogadores, especialmente a Geração Z, não se importam com conteúdo gerado por IA; por outro lado, vários estúdios sofreram backlash quando fãs descobriram imagens ou vozes não declaradas. Qual é a real aqui: os gamers brasileiros vão engolir a tal “IA slop” ou vão botar o pé no freio quando ela aparecer onde não deve?
“Os consumidores geralmente não se importam” — Jacob Navok. Navok, ex-diretor da Square Enix, foi além: “Geração Z adora AI slop” — Jacob Navok, e lembrou que o hit do ano teve números astronomicamente maiores que Arc Raiders — e ainda assim era basicamente composto por “personagens AI slop”. A tese dele é simples e técnica: enquanto o público continua consumindo, as críticas são mais emocionais do que racionais. Isso levanta uma pergunta prática: será que estamos confundindo sentimento com tendência de mercado?
No terreno da realidade, a adoção é clara. Muitos estúdios já estão usando IA em fases de conceito, geração de vozes e até no desenvolvimento de código. “Será difícil encontrar um título não-indie que não esteja usando Claude para código” — Jacob Navok. O CEO da EA, Andrew Wilson, também deixou claro que a IA é parte fundamental dos planos deles: “A IA é o cerne do nosso negócio” — Andrew Wilson. Essas declarações não são filosóficas — são decisões de pipeline que afetam produtividade, custo e cronograma. Quando uma ferramenta reduz semanas de trabalho em dias, a pressão para adotar vira questão de sobrevivência.
Ainda assim, nem tudo são flores. Ubisoft teve que remover uma imagem em Anno 117: Pax Romana depois que fãs identificaram elementos gerados por IA. Jogadores de Call of Duty: Black Ops 7 também relataram imagens suspeitas — resultado de uma tendência que incluiu virais de “AI-Ghibli” no início do ano. Desenvolvedoras como 11 Bit Studios e Frontier Development enfrentaram críticas semelhantes por usarem imagens de IA sem deixar claro. Esses incidentes mostram um ponto crucial: transparência importa. Público aceita IA quando o resultado é bom e quando não se sente enganado.
Tem também o impacto em premiações e reputação. O streamer Shroud sugeriu que a polêmica de voz gerada por IA prejudicou Arc Raiders na corrida ao Game of the Year: “Essa controvérsia segurou Arc Raiders para o prêmio do ano” — Shroud. Ou seja, mesmo jogos populares podem ter seu alcance criticamente limitado se a implementação da IA for mal comunicada ou percebida como antiética.
E há vozes internas da indústria defendendo a adoção. Glen Schofield, criador de Dead Space, falou em “consertar” a indústria com ajuda da IA. Meghan Morgan Juinio disse claramente que ignorar a IA seria uma perda. Já Shigeru Miyamoto, da Nintendo, preferiu um caminho diferente: “Vamos seguir em outra direção” — Shigeru Miyamoto. Diferentes estratégias, mesmos objetivos: manter qualidade, reduzir custos e acelerar entregas.
No Brasil, esse debate encontra particularidades — comunidades de fãs intensas, streamers influentes e uma sensibilidade maior a mudanças que parecem cortar autenticidade do produto. A pergunta que eu deixo é prática: o estúdio comunica a utilização de IA de forma transparente? Se sim, muitos aceitarão; se não, prepare-se para refund requests, threads no Twitter e vídeos no YouTube.
No fim das contas, a IA já faz parte do pipeline e os números mostram que ela traz vantagens claras. Mas a adoção sem comunicação e controle de qualidade vira tiro no pé. Transparência e padrão técnico são agora tão importantes quanto o próprio algoritmo. Se a indústria acertar esse equilíbrio, a IA pode acelerar jogos melhores; se errar, vai perder confiança — e confiança é algo que os jogadores brasileiros cobram pesado.