Dead Reset une Alien a um gameplay em loop estilo Russian Doll com escolhas impactantes

Cole Mason acorda desacordado em um porão úmido, cercado por estranhos que o forçam a realizar uma cirurgia de alto risco sob o risco de uma execução sumária. Desde as primeiras escolhas — tentar resistência física ou negociar uma trégua — o jogo reage com um empurrão convincente para que Cole “jogue conforme o script” até que o paciente, Amanda, revela um tumor pulsante e vivo em sua cavidade abdominal. Quando o bisturi rasga a pele, uma massa alienígena se projeta por tentáculos, pulverizando membros e gritando num coro de horror e sangue. E então, como num pesadelo de Russian Doll com pitadas de Alien, Cole desperta exatamente no mesmo ponto, com apenas uma memória intacta das mortes anteriores. Dead Reset, produzido pela Wales Interactive, abraça essa mecânica de loop temporal para criar um thriller sci-fi que mistura tensão, gore e um senso curioso de urgência.

A dinâmica do loop e o peso das escolhas

Logo nos minutos iniciais, o sistema de loop de tempo joga você de volta ao ponto zero sempre que a cirurgia falha ou a carnificina acontece. A cada reinício, pequenas variáveis mudam: o humor de Slade, a disposição de Fearne e até o posicionamento de objetos no cenário. Mas até que ponto suas decisões realmente afetam o desfecho final? É difícil precisar. Em Dead Reset, cada tentativa conta como um experimento de laboratório: você aprende padrões, testa hipóteses e identifica gatilhos críticos. A maioria dos parâmetros de falha — a liberação prematura do tumor, o disparo de segurança do revólver de Slade ou o bloqueio elétrico instalado por Magson — é sólida, mas percebemos que há certa rigidez nos pontos de ramificação.

A tensão cresce porque o loop não é apenas um artifício narrativo, mas sim um instrumento de design que define ritmo e urgência. Você tem recursos limitados: alguns sedativos, ferramentas cirúrgicas específicas e poucas interações capazes de alterar minimamente o comportamento dos NPCs. Por exemplo, tentar acalmar o tumor na primeira tentativa não impede o desastre; arrancar o tentáculo com o bisturi só antecipa a explosão. Ainda assim, o que parece ser uma escolha inútil aos 20 segundos pode render informação valiosa no terceiro ciclo, quando Slade admite, em um tom estranhamente simpático, que a porta de segurança só trava com credenciais biométricas.

As falas entre acertos e erros formam um diálogo quase metalinguístico: “Você realmente acha que eu vou largar minha arma?”, provoca Slade. E aí percebemos que cada NPC não está apenas seguindo um roteiro, mas reagindo à reputação de Cole, calculada em tempo real. “O loop de tempo incentiva o jogador a experimentar sem medo; falhar é parte essencial da progressão”, diz a diretora de gameplay Sarah Johnson. Mesmo assim, fica a dúvida: os caminhos posteriores divergem de fato ou são variações cosméticas no mesmo conjunto de cenas? O demo de uma hora da primeira fase sugere que sim, mas deixa no ar se há ramificações suficientes para justificar replay completo.

No cerne, o game apresenta um sistema de confiança. Suas ações para salvar Amanda — usar drogas para manter o tumor inerte ou induzir parada cardíaca temporária — podem conquistar pontos extras com Fearne ou liberar diálogos adicionais com Slade. Mais do que uma simples barra de afinidade, esse sistema cria camadas de narrativa emergente, onde cada microescolha pode desbloquear uma nova fala ou um fragmento de informação sobre o passado dos personagens. A precisão desse mecanismo ainda precisa de mais testes, mas a promessa de múltiplos finais e consequências palpáveis já coloca Dead Reset dentre os títulos mais instigantes para quem curte aventura interativa.

Produção e Realismo

O grande diferencial de Dead Reset está na utilização de atores reais, cenários físicos e próteses de efeitos práticos— um contraste claro com as animações totalmente digitais que dominam shooters e jogos de ação em primeira pessoa. Em vez de renderizar monstros em CGI, a equipe recorreu ao lendário artista Tom Savini para criar um tumor alienígena crível, com tentáculos articulados e reações físicas ao corte cirúrgico. “Usar atores reais traz uma autenticidade que CG não alcança”, afirma Tom Savini. Em consoles como Xbox Series X e PCs de última geração, o resultado é uma experiência mais visceral, onde cada respingo de sangue e expressão de pavor ganha textura e profundidade.

Tecnicamente, o jogo roda a 4K dinâmico a 60 fps no Series X, com ray tracing em tempo real refletindo luzes de lanternas e sombras nos corredores úmidos do porão. No PC, há opções avançadas de filtro de partícula para o sangue e ajustes detalhados de físicas dos tentáculos, permitindo que cada movimento se comporte de maneira distinta de acordo com a força aplicada pelo bisturi. O áudio espacial 3D maximiza o desconforto: o sussurro de Amanda ao pedir ajuda soa à distância, criando a sensação de que você realmente está preso a metros de altura em relação ao cadáver próximo.

No entanto, nem tudo é impecável. Alguns efeitos de pós-processamento, como bloom exagerado ou cortes bruscos de iluminação, chegam a quebrar a imersão em momentos-chave. Há também instabilidades de frame no PC em configurações Ultra, sugerindo que a otimização ainda exige alguns patches. Esses elementos não desmerecem a ousadia do projeto, mas servem como lembretes de que produzir um jogo com cenários reais exige trade-offs entre fidelidade visual e performance estável.

Dead Reset evoca clássicos de horror interativo como Until Dawn e a antologia The Dark Pictures, mas ousa ao mesclar o formato de graphic novel interativa com mecânicas de puzzle temporal. Os fãs de shooters competitivos e battle royales, acostumados a ambientes digitais totalmente gerados, podem estranhar a cadência mais lenta e controlada — aqui, cada input importa e cada segundo de inação pode custar a vida do grupo. Para quem curte ação em primeira pessoa, fica o convite: já imaginou ter que trocar a pistola por um bisturi e analisar sinais vitais em vez de mirar cabeças?

Mesmo com limitações orçamentárias visíveis em alguns props, a estética “série B de canal Sci-Fi” funciona como charme: preserva o clima claustrofóbico, a sensação de isolamento e aquele toque camp que amplia o suspense. A química do elenco, sobretudo entre Cole e Amanda, surge com naturalidade, reforçando a imersão e fazendo o jogador se importar com os personagens, algo raro em games cujo foco é apenas atirar no monstro.

Para quem se pergunta se vale a pena a espera até setembro, quando Dead Reset chega ao Steam, minha resposta é: se você curte narrativas não-lineares e experiências que misturam cinema e jogabilidade, este título vai contrariar expectativas. Por outro lado, quem busca ação frenética sem margem para erros pode se irritar com o ritmo metódico do game.

A proposta de ciclos mortais e memórias retidas transforma cada acesso ao menu de escolhas em um momento de adrenalina. E, no limite, a pergunta que fica é: até onde você sacrificaria seus sócios de tortura em prol de um desfecho alternativo? Os loops se encadeiam, as peças do quebra-cabeça se encaixam aos poucos e a sensação de replay vale a pena justamente pelas sutis diferenças que você descobre a cada falha.

No final das contas, Dead Reset não se rende ao “varejo de clichês” e entrega algum nível de autonomia ao jogador, mesmo que enraizado em sequências guiadas. É um passo interessante na evolução dos jogos de horror interativo — especialmente para quem, como eu, curte dissecar mecânicas e questionar: será que esse tumor alien existe apenas para dar o susto ou esconde uma explicação científica que ainda vamos descobrir?