Tekken 8 voltou a brilhar em 2025 no Evo com momentos marcantes que reacenderam a chama da comunidade. Arslan Ash garantiu seu sexto título no evento, o terceiro consecutivo, mostrando por que é um fenômeno nas lutas 1×1. Enquanto isso, a Bandai Namco agitou a plateia com um trailer estendido de gameplay do próximo personagem DLC, Armor King, e ainda soltou a surpresa de Miary Zo, a personagem final do Character Pass 2. Aproveitei o evento para me reunir com o time de Tekken e conversar sobre essas novidades: o que podemos esperar de Armor King, como nasceu Miary Zo depois de uma imersão em Madagascar, a chance de revisitar o Tekken Tag Tournament e o estado atual do jogo após uma turbulenta estreia da Season 2 regada a patches de emergência. Confira abaixo as opiniões de Kohei Ikeda (Nakatsu), Diretor de Jogo de Tekken 8, Katsuhiro Harada, Diretor de Projeto, e Michael Murray, Produtor.
Arslan Ash: o rei incontestável do Evo
O nome de Arslan Ash já entrou para a história do Evo, e 2025 confirmou sua hegemonia no cenário de Tekken. Com técnico precisa e uma leitura de jogo quase premonitória, ele superou adversários renomados e levantou o troféu pela sexta vez. Para quem ainda duvida do seu talento, basta ver sua consistência: três títulos seguidos falam por si só.
Mas o que faz de Arslan um fenômeno? Será sua capacidade de adaptação a cada versão? Ou a calma quase sobrenatural sob pressão? Fato é que assentos ficaram vazios apenas quando ele subia ao palco para comemorar, tamanha a atenção que ele atraiu.
Armor King e o DLC em destaque
Pouco depois da final manter todos em suspense, a Bandai Namco mostrou um trailer estendido de Armor King. Visualmente, a apresentação esbanjou gráficos refinados: detalhes milimétricos na máscara, texturas de tecido rasgado e efeitos de iluminação mais realistas do que nunca. No gameplay, o foco ficou nos golpes com névoa venenosa que funcionam como reversals, abrindo espaço para combos brutais.
É impressionante como a lutabilidade do Armor King evoluiu em relação às iterações passadas. Ele agora combina reversões ágeis com arremessos mushin-like, garantindo maior versatilidade em matchups defensivos. Quem já domina suas mecânicas vai se sentir em casa, mas há novidade suficiente para tornar cada partida imprevisível.
O mistério de Miary Zo: pesquisa em Madagascar
A grande revelação de Character Pass 2 ficou por conta de Miary Zo, e a criação dela começou em plena África insular. Para entender a essência cultural e física dos habitantes de Madagascar, a equipe foi além dos livros e rodou a capital Antananarivo a pé. Observou desde a altura média das pessoas até o estilo de cabelo e tonalidade de pele, elementos essenciais para representar autenticidade.
“Pesquisamos um pouco na internet, mas havia pouca informação disponível. Então fomos até lá, caminhamos pela cidade para observar as pessoas de verdade: suas alturas, cortes de cabelo, tonalidade de pele e traços gerais da população. Isso nos deu um ponto de partida sólido para o design.” Kohei Ikeda (Nakatsu), Diretor de Jogo de Tekken 8
Para complementar, Katsuhiro Harada destaca a imersão nas tradições milenares e a conexão com a comunidade de jogadores locais.
“Uma das primeiras etapas da pesquisa foi visitar monumentos históricos para entender o desenvolvimento cultural do país. Empregamos guias locais para aprender sobre os valores, aspectos religiosos e o entusiasmo da comunidade pelos torneios mensais de Tekken World Tour, mesmo com uma população relativamente pequena.” Katsuhiro Harada, Diretor de Projeto Tekken
Esse trabalho etnográfico resultou num visual rico, sobretudo nas cores de vestimentas, acessórios e patterns que remetem a rituais tradicionais. Cada detalhe reforça a identidade de Miary Zo como representante genuína daquela região.
Arquitetura de artes marciais africanas
Não bastasse a aparência, o estilo de luta de Miary Zo mergulha de cabeça nas artes marciais africanas. A base é o Moraingy, mas o sistema de golpes é um amalgama de várias modalidades, incluindo Dambe, famoso por ataques com um braço protegido e golpes cruéis.
“O estilo de luta é baseado no Moraingy, mas é mais solto e permite interpretações individuais. Também incorporamos técnicas de artes marciais como Dambe e outras provenientes do continente africano.” Katsuhiro Harada
Além disso, existe uma curiosa inspiração na fauna local. Miary Zo conversa com a selva: movimentos fluídos lembram o salto de lêmures, esquivas remetem à agilidade de mangustos e giros evocam a imponência de camaleões.
“Ela não só aprendeu com lutadores profissionais, mas também observou animais selvagens, incorporando seus movimentos únicos em seu estilo.” Kohei Ikeda (Nakatsu)
O resultado deve ser um personagem dinâmico, imprevisível e capaz de contrapontos criativos em qualquer match-up.
Desafios e prazeres de criar personagens
Na evolução do Tekken há três espécies de criação de lutador: atualizar um clássico (Armor King), adaptar um convidado de outra IP (Clive) e desenvolver alguém do zero (Miary Zo). Cada método tem suas particularidades.
Para Armor King, Ikeda detalha como incrementaram o arquétipo de “vilão do wrestling”:
“Aproveitamos a imagem do ‘heel’ do pro wrestling e adicionamos a névoa venenosa não só como reversão, mas também para conectar combos de arremessos. Queríamos que ele soasse mais brutal e visceral que o King, trazendo a assinatura de um tropeço bem violento antes do slam.” Kohei Ikeda (Nakatsu)
Clive, proveniente de outra franquia, exigiu fidelidade ao original, porém com liberdade criativa para encaixá-lo no sistema Tekken 8:
“Trazer um personagem externo é um jogo de equilibrar expectativas: você precisa pensar como fã primeiro para entender o que faz desse rosto um ícone, e então inserir sutis ajustes para que ele funcione naturalmente no nosso motor de jogo.” Katsuhiro Harada
Mas, para muitos, o ponto alto é criar do zero:
“Criar personagens do zero é muito gratificante: você tem à disposição todo o nosso pipeline de animação e o input de dezenas de pessoas, o que torna o processo muito colaborativo e rico em ideias.” Kohei Ikeda (Nakatsu)
Com Miary Zo, a equipe explorou conceitos frescos sem amarras, resultando em uma personagem coesa em lore, estilo visual e jogabilidade.
O ressurgimento dos tag fighters e o futuro de Tekken Tag Tournament
No cenário de luta, tag fighters estão com tudo: Marvel Tokon, Invincible VS e 2XKO dominam conversas. Diante desse renascimento, perguntei se a Bandai Namco cogita reviver o clássico Tekken Tag Tournament.
Para Harada, o desafio técnico e o peso de dominar dois personagens no 3D são fatores críticos:
“Cada lutador em Tekken possui um arsenal enorme de golpes. Somar dois em uma partida torna a curva de aprendizado bem íngreme para quem não é hardcore. Se fizermos algo assim de novo, acredito que seria melhor como um modo opcional dentro de um Tekken principal, e não um título separado.” Katsuhiro Harada
Michael Murray, que cresceu jogando Tag 1 nos fliperamas, também reconhece essa barreira:
“Amamos Tekken Tag 2, mas sabemos que muitos jogadores se perderam diante da quantidade de conhecimento exigida para usar múltiplos lutadores. É preciso um equilíbrio para não afastar o público casual.” Michael Murray, Produtor de Tekken 8
Diante disso, é improvável vermos um revival standalone tão cedo, mas um modo tag dentro de Tekken 8 ou Tekken 9 ainda pode rolar.
Tempos de ajustes emergenciais no Season 2
A chegada da Season 2 em Tekken 8 foi marcada por mudanças ousadas que não agradaram a todos, gerando uma sequência de patches de emergência. Nos bastidores, o time de balanceamento tentou fugir do óbvio, mas acabou indo longe demais.
“Percebi que muitos esperavam mais opções defensivas e lamento que as mudanças não tenham atendido a essas expectativas. O objetivo era trazer uma cara nova à temporada, mas reconheço que tivemos que ajustar várias coisas com urgência.” Kohei Ikeda (Nakatsu)
Murray reforça a evolução do game após as correções:
“Acredito que o jogo está muito melhor após as atualizações. Quem não joga há um tempo deveria dar outra chance, pois vários problemas foram resolvidos.” Michael Murray
Já Harada lembra do processo sem fase de fliperama, o que encurtou o ciclo de refinamento:
“Tekken 8 foi direto para console, sem o período de arcade para maturar. A equipe é jovem, então algumas mudanças de Season 2 foram um pouco extremas. Mas estamos sempre em contato com a comunidade para alinhar o que deve ou não fazer parte do espírito de Tekken.” Katsuhiro Harada
A combinação de um lançamento global simultâneo e a vontade de inovar acabou gerando um efeito colateral, mas o suporte contínuo mostra o compromisso do time em manter o jogo competitivo e equilibrado.
Ao fechar este relato, é evidente que Tekken 8 continua em evolução: entre performances eletrizantes no Evo, trailers de tirar o fôlego e entrevistas que revelam o cuidado por trás de cada passo, o jogo reafirma seu peso no panteão dos fighters. Fique ligado para mais detalhes sobre Armor King, a chegada triunfal de Miary Zo e como o jogo vai ajustar suas engrenagens rumo às próximas temporadas. Afinal, quem não ama ver um bom balance patch e descobrir nuances de um novo personagem?
