Desde o lançamento de Call of Duty: Black Ops 7, a discussão sobre o uso de inteligência artificial em jogos voltou com força — e não só entre pros e contra: entrou até no radar do Congresso dos EUA. A treta começou quando jogadores encontraram imagens geradas por IA espalhadas pelo jogo, principalmente em calling cards com um visual “à la Studio Ghibli”, e explodiu nas redes. No Brasil, onde muitos artistas freelance vivem de comissões e estúdios locais disputam talentos, esse debate não é abstrato: afeta quem faz arte, quem compra e quem joga.
O congresista californiano Ro Khanna foi direto ao ponto: “Precisamos de regulações que impeçam empresas de usar IA para eliminar empregos para extrair maiores lucros. Os artistas nessas empresas precisam ter voz sobre como a IA é implantada. Eles deveriam compartilhar dos lucros. E deveria haver um imposto sobre o deslocamento em massa.” — Ro Khanna. Em seguida, Khanna reforçou a ideia de que não se trata de banir tecnologia, mas de criar guardrails: “Reformas fiscais para desencorajar automação excessiva, conselhos de trabalho para que a IA seja usada como augmentação, regras para que trabalhadores compartilhem ganhos de produtividade, planos de contratação para graduados que perdem vagas de entrada, um imposto sobre deslocamento em massa e salvaguardas contra tudo isso.”
Do ponto de vista técnico, o que aconteceu em Black Ops 7 não é surpresa: estúdios estão usando modelos generativos para acelerar produção de assets — especialmente elementos periféricos como cartas, backgrounds e variações visuais. IA pode reduzir custos e acelerar entregas, mas também cria risco real de descaracterização artística e perda de renda para freelancers. A conta é simples: modelos treinados em milhões de imagens podem imitar estilos e produzir imagens em escala, mas sem pagar direitos nem reconhecer autores. E aí? Como proteger o artista brasileiro contratado por hora?
A Activision reconheceu o uso de ferramentas digitais e IA: “Usamos uma variedade de ferramentas digitais, incluindo ferramentas de IA, para empoderar e apoiar nossas equipes na criação das melhores experiências possíveis para nossos jogadores. Nosso processo criativo continua sendo liderado por indivíduos talentosos em nossos estúdios.” A declaração tenta equilibrar transparência com controle de danos, mas a reação do público mostra que transparência sozinha não basta — jogadores querem clareza sobre o que é humano e o que é gerado, e artistas querem participação nas decisões e nos ganhos.
Não é a primeira vez que Call of Duty se envolve com polêmica de IA: em fevereiro houve problema similar em Black Ops 6. Além disso, há reclamações de jogabilidade no lançamento: a campanha sempre-online tem limitações — sem pausa, e você pode ser expulso por inatividade. Uma experiência online restritiva somada a recursos de produção automatizada cria uma sensação de produto industrializado demais.
E os reviews? A campanha recebeu nota 6/10 de alguns críticos. “É uma doida por conta da ambição, mas os grandes arremessos nem sempre acertam, deixando um passo irregular em relação ao ano passado.” — Vikki Blake, IGN. Para quem joga no Brasil, a discussão não é só estética: é sobre empregos, cultura e como as empresas internacionais impactam o mercado local.
No fim das contas, a questão é prática: queremos jogos melhores mais rápido — mas a que custo para quem cria? Será que medidas fiscais, acordos coletivos e regras de transparência seriam suficientes para equilibrar inovação e proteção ao trabalho criativo? Para artistas e estúdios brasileiros, vale começar a discutir contratos, cláusulas sobre IA e formas de negociar participação nos lucros antes que a automação vire padrão.