A situação da Bungie com Destiny 2 virou um daqueles casos que todo jogador assíduo acompanha com mistura de curiosidade e preocupação: após a aquisição pela Sony, os números não corresponderam à expectativa e a dona colocou um prejuízo contábil gigante no balanço. Para o público brasileiro — que consome Destiny 2 em PC, PS5 e até em comunidades no Xbox — isso significa mudanças no estúdio, pressão por resultados e um futuro incerto para projetos já anunciados, como o shooter de extração Marathon.
O que ocorreu na prática
A Sony registrou uma perda por impairment de 31,5 bilhões de ienes (aprox. US$204,2 milhões) ligada ao desempenho de Destiny 2 e aos ativos da Bungie. Em termos simples: a projeção de receita e engajamento caiu tanto que parte do valor pago pela compra precisou ser baixado no balanço. É um sinal claro de que a operação não está entregando o retorno esperado pela nova controladora. Isso afetou os resultados do segmento Game & Network Services da Sony e reacende o debate sobre como grandes aquisições de estúdios de live service podem dar errado.
“Com relação ao Destiny 2, parcialmente devido às mudanças no ambiente competitivo, o nível de vendas e engajamento dos usuários não atingiu as expectativas que tínhamos no momento da aquisição da Bungie. Enquanto continuaremos a fazer melhorias, revisamos para baixo a projeção de negócios por ora, e registramos uma perda por impairment em uma parcela dos ativos da Bungie.” — Lin Tao, CFO da Sony
A expressão numérica é importante, mas o impacto real aparece nas métricas de jogador: no Steam, Destiny 2 teve um pico diário de apenas 13.497 jogadores recentemente, contra 314.000 em junho do ano anterior. Pode-se argumentar que Steam não mostra a base completa (há usuários em PlayStation, Xbox e consoles na América Latina), mas a queda é um sinal técnico de que atualizações e conteúdos não estão mantendo o público engajado.
Queda de jogadores é sintoma, não doença: se as atualizações não resolvem a retenção, a receita também cai.
Nos bastidores: cultura, demissões e integração
O período pós-aquisição foi turbulento. Em 2023, cerca de 100 funcionários foram demitidos e o DLC The Final Shape sofreu atraso; Pete Parsons deixou a companhia em 2024 após 23 anos na Bungie. Desenvolvedores relataram ao IGN que a atmosfera era “soul-crushing” durante os cortes. “A atmosfera na Bungie era ‘desmoralizante’,” — desenvolvedores ao IGN. Em 2024 continuaram os cortes: 220 pessoas a menos na folha, com 155 sendo integradas diretamente à Sony. Alguns ex-funcionários chegaram a afirmar que a Bungie havia apresentado números otimistas demais no momento da venda — e que, sem a aquisições, a alternativa seria falência. “A história alternativa é a insolvência,” — um ex-funcionário bem conectado.
Esses relatos colocam foco não só na performance do jogo, mas no risco operacional de manter um estúdio grande e com projetos ambiciosos de live service. A Sony, percebendo a necessidade de controle, passou a integrar a Bungie ao selo PlayStation Studios — movimento que para muitos desenvolvedores significa mais supervisão direta.
Marathon, o grande projeto futuro, foi adiado para além de 2025 e tem previsão de lançamento antes de abril de 2026, segundo a Sony — mesmo com feedback alfa misto e críticas de plágio que até abalaram a reputação do estúdio. É esse título que agora carrega parte da responsabilidade por provar que a Bungie pode entregar algo rentável e tecnicamente sólido.
Para o jogador brasileiro, o desdobramento prático é simples: menos conteúdo consistente, risco de mudanças na monetização e incerteza sobre suporte de longo prazo. Já vimos outros lançamentos caros escaparem por entre os dedos das empresas — lembra do fiasco da Concord e do fechamento da Firewalk? A Sony quer evitar repetir esse erro.
E agora?
A Bungie precisa de uma estratégia técnica clara: melhorar o balanceamento de conteúdo, otimizar servidores e comunicação com a comunidade, e acelerar entregas sem sacrificar qualidade. Do lado corporativo, a integração à PlayStation Studios e os ajustes financeiros mostram que a Sony está puxando as rédeas. Resta saber se isso vai resultar em mais recursos e estabilidade ou em perda de autonomia criativa que afete o jogo.
Você acha que a solução passa por maior controle corporativo ou por dar mais liberdade ao time criativo para arriscar? Seja qual for o caminho, a exigência é a mesma: entregar jogos que prendam os jogadores e recuperem a confiança do mercado.