GTA e Red Dead com atores ausentes na National Gaming Expo, 30 mil esperados e só um camelo

No último fim de semana, fãs de jogos foram a Tampa, Flórida, esperando um evento grande: a primeira edição da National Gaming Expo. A promessa era grande — atores de Grand Theft Auto V e Red Dead Redemption 2, compositores, vozes clássicas da Nintendo, painéis, estandes e oportunidades de fotos — mas o resultado chegou perto do oposto. Como jornalista de jogos e curioso técnico sobre produção de eventos, fiquei acompanhando as postagens e recebendo relatos de quem foi. O que se desenhou foi uma convenção irregular, com pouca infraestrutura, talentos ausentes, um fotógrafo que não apareceu e…um zoológico de animais de fazenda no lugar de lançamentos e estandes relevantes. Por que um evento com expectativas de 30 mil pessoas terminou tão aquém? Vamos destrinchar: logística, credibilidade do organizador, comunicação e o impacto para quem pagou por ingressos e encontros pagos.

O evento e a experiência no local

A NGE (National Gaming Expo) aconteceu entre 8 e 10 de agosto no Florida State Fairgrounds. O site oficial divulgou cerca de 30 mil pessoas esperadas, painéis, sessões de autógrafos, fotos com celebridades e um concurso de cosplay. Na prática, fotos e vídeos publicados nas redes mostraram um pavilhão com poucos estandes — relatos falam em talvez 10 vendedores — e uma mistura de expositores pouco relacionada ao universo gamer (seguros de saúde, operadora de celular). Um usuário descreveu a experiência no Reddit com uma analogia bem clara: entrar numa loja de eletrônicos procurando jogos e encontrar prateleiras cheias de brócolis e detergente, com um videocassete antigo caro encostado no fundo. Isso não é só falta de público; é falha de curadoria do que deveria compor uma feira de jogos.

Em vez de demos de jogos ou lançamentos, um dos pontos altos visuais do evento foi um petting zoo com um camelo e alguns animais de fazenda. “A National gaming expo tem que ser a pior convenção já produzida — tudo o que eles têm é um camelo e nenhum jogo”, escreveu o perfil @funkonoki no Twitter, traduzido livremente para o português. A cena virou meme e reforçou a sensação pública de que algo saiu muito errado no planejamento do evento.

Além da disposição ruim dos expositores, houve problemas reais de segurança e controle de público relatados por quem foi ao local. Painéis cancelados ou mal organizados, microfones emperrando, horários trocados e funcionários despreparados foram citados várias vezes. Em uma das poucas palestras que aconteceu, houve quem dissesse que o próprio ator Ned Luke — conhecido por interpretar Michael De Santa em GTA V — acabou assumindo parte do papel de mestre de cerimônia por conta da ineficácia da organização.

Talentos, fotógrafos e expectativas quebradas

Um dos maiores fatores que levaram fãs a comprar ingressos era a presença de vozes e atores célebres do mundo dos games. Nas semanas que antecederam o evento, plataformas como Celebrity Talent Booking e os próprios atores divulgavam suas participações. Rob Wiethoff (John Marston) e Roger Clark (Arthur Morgan) chegaram a provocar entusiasmo, com fãs esperando uma reunião das equipes de Red Dead Redemption 1 e 2. Alguns desses talentos, no entanto, não compareceram conforme prometido ou tiveram seus horários reprogramados sem transparência.

Várias pessoas relataram que sessões pagas de fotos foram canceladas porque o fotógrafo contratado pelo evento não apareceu. O resultado: fãs que pagaram por oportunidades específicas ficaram a ver navios. Tentativas de contato com organizadores resultaram em contas deletadas e páginas bloqueadas nas redes sociais — ações que só pioram a confiança do público. Quando a organização some das redes e fecha comentários, a suspeita de golpe só aumenta.

O ator Ned Luke foi direto em sua avaliação. “Foi um golpe, o cara que organizou isso foi um vigarista. Ele colocou o ‘con’ em comic-con.” — Ned Luke, em declaração à IGN (tradução livre). E Roger Clark, voz de Arthur Morgan, também comentou sua ausência: “É com minhas mais profundas desculpas que digo que não pude comparecer ao último dia da National Gaming Expo hoje como foi anunciado. Minha ausência se deveu a circunstâncias fora do meu controle. Coisas malucas, cara. Desculpem.” — Roger Clark, via Twitter, traduzido.

A Venture Authentics, que havia anunciado serviços de envio de itens para autógrafos, publicou um pedido de desculpas e prometeu reembolsos, citando convidados que não compareceram. “Isso não é culpa dos convidados, é 100% da convenção. Prefiro não elaborar publicamente, mas não culpem os convidados. Eles parecem tão chocados quanto nós.” — Venture Authentics (comentário traduzido de postagem no Facebook).

Quem organizou e o histórico do produtor

O organizador do evento foi Michael Wittenberg, CEO da NGE Event Production. Investigar o histórico dele colocou mais lenha na fogueira das críticas: Wittenberg organizou anteriormente a National Vape Expo, um evento que recebeu críticas por ser superficial e mal montado. Além disso, há registros de um episódio sério em 2023 — prisão na República Dominicana por conta de uma remessa com produtos suspeitos de conter THC. Na época, Wittenberg declarou à imprensa: “Eu não sabia com certeza que aquilo estava na remessa. Foi estúpido ou ignorante? Sim. Mas eu não era culpado. Há uma diferença.” — Michael Wittenberg, em entrevista reproduzida pela CBS News (tradução livre).

Esses antecedentes jogam luz sobre a capacidade de administrar um evento grande, especialmente quando envolve logística complexa: contratação de talentos internacionais, coordenação de fotógrafos e fornecedores, segurança, e comunicação com o público. Para montar uma convenção de games que funcione, é preciso cuidar de cronogramas rígidos, contratos claros com penalties, uma rede confiável de fornecedores e atenção meticulosa à experiência do participante — algo aparentemente ausente neste caso.

Reação do público e as consequências financeiras

A resposta nas redes foi visceral. Muitos pediram reembolso imediatamente; alguns conseguiram estornar as cobranças no cartão ou receber reembolso via Eventbrite. Outros estão sem saber como recuperar o dinheiro dos encontros pagos que nunca aconteceram. Nos comentários públicos do Florida State Fairgrounds para o evento, havia filas de reclamações e alertas sobre o histórico do organizador.

Além da frustração dos fãs, há um impacto reputacional para os convidados e para o próprio mercado local. Agentes e talentos provavelmente serão mais cautelosos em aceitar convites sem garantias contratuais mais rígidas. E para quem pagou uma experiência que não recebeu, o sentimento é de traído — uma ferida que eventos futuros vão demorar para curar na comunidade.

O que aprendemos e o que esperar no futuro

Do ponto de vista técnico, várias lições saltam: contratos com talentos e fornecedores precisam de cláusulas de penalidade claras; a comunicação pré-evento sobre logística deve ser transparente; e há necessidade de redundância (por que não ter mais de um fotógrafo credenciado?). Eventos são operações complexas que dependem de dezenas de pontos de falha — aceitar isso e planejar em camadas é o mínimo.

Para a comunidade gamer, fica o alerta: verifique credibilidade do organizador, procure reviews de eventos passados, e prefira comprar ingressos com políticas de reembolso claras. Para organizadores aspirantes, a dica é simples: comece menor, teste seus fornecedores e ensaie a operação antes de prometer grandes nomes e grandes números. Quem paga por experiência quer entrega consistente, não improviso.

No fim, a NGE deixou um rastro de fotos vazias, uma conta de redes deletada e muita frustração — e, cá entre nós, também abriu espaço para perguntas necessárias sobre profissionalismo em eventos gamer. Será que daqui a alguns meses veremos reações legais mais formais, ou tudo vai se diluir em disputas por reembolso? Por ora, a comunidade vai lembrar desse episódio como um aviso claro: experiência de usuário em eventos é tão crítica quanto performance em um servidor competitivo — quando falha, ninguém quer ficar no respawn.