Marcus Lehto afirma que ex-Ridgeline não receberam créditos justos em Battlefield 6

Marcus Lehto critica falta de créditos adequados para ex-funcionários da Ridgeline no Battlefield 6, destacando falhas éticas na gestão de projetos e reconhecimento na indústria.
Escrito por:
Lucas Amaral

Quando um estúdio é fechado no meio do desenvolvimento de um jogo, as questões sobre autoria, créditos e legado ficam espalhadas pela linha do tempo do projeto. No caso do Battlefield 6, Marcus Lehto — cofundador da Ridgeline Games e veterano de Halo: Reach — levantou um problema simples e incômodo: muitos dos profissionais que construíram a base da campanha narrativa não receberam o crédito apropriado no lançamento do jogo.

Lehto publicou no LinkedIn uma lista com nomes e cargos dos ex-funcionários da Ridgeline, reclamando que a maior parte do trabalho desses desenvolvedores foi creditada apenas na seção de “Agradecimentos Especiais” ou sequer apareceu nos créditos. “Estou desapontado ao ver que muitos dos meus ex-colegas da Ridgeline Games não foram devidamente creditados no recente lançamento de Battlefield 6”Marcus Lehto. Ele reforça que times inteiros trabalharam entre 1 e 2,5 anos “construindo a fundação” do jogo antes do estúdio ser fechado. Isso soa como uma falha administrativa simples, ou é reflexo de um problema mais estrutural na gestão de projetos AAA?

O cenário foi esse: a Ridgeline foi criada para desenvolver a campanha narrativa do Battlefield 6, mas foi fechada em fevereiro de 2024, parte de uma reestruturação maior da EA que cortou centenas de empregos. Na época, a EA anunciou que o trabalho começado continuaria. Em uma nota interna citada publicamente, a liderança da EA explicou a transição de responsabilidades: “O produtor da Criterion, Danny Isaac, e o chefe de criação Darren White substituirão Lehto para continuar o trabalho na campanha planejada, com alguns membros da Ridgeline juntando-se ao Ripple Effect”Laura Miele.

Enquanto o multiplayer do Battlefield 6 quebrou recordes de vendas e foi elogiado, a campanha narrativa não teve sorte com crítica. A avaliação da campanha pela IGN devolveu um 5/10: “Uma reimaginação segura e enfadonha do que Battlefield já foi, em vez de uma reinvenção ousada do que poderia ser”IGN. Será que a troca de mãos no meio do desenvolvimento contribuiu para um produto final morno? Quais perdas na consistência de design e na continuidade de visão podem ocorrer quando a equipe original é desmontada?

Do ponto de vista técnico e de produção, créditos não são apenas formalidade: refletem propriedade intelectual, trajetórias profissionais e, muitas vezes, cláusulas contratuais. Desenvolvedores usam créditos para portfólios, recrutamento e reputação dentro do mercado. Apagar ou reduzir visibilidade do trabalho de profissionais é, no mínimo, uma falha ética e profissional. Em uma indústria que depende de times multifuncionais, o reconhecimento claro deveria ser padrão, não exceção.

A EA foi procurada por comentários pela imprensa, mas não houve declaração pública detalhada além das notas internas já conhecidas. No fim, a história do crédito de Ridgeline é um lembrete incômodo: o sucesso comercial de um título não apaga as decisões humanas e administrativas que moldaram seu desenvolvimento. O que restará para os profissionais que ajudaram a colocar as peças no lugar — reconhecimento público, histórico no currículo ou apenas uma menção no rodapé? Talvez seja hora de discutir processos mais transparentes para garantir que quem constrói a base de um jogo receba o lugar que merece nos créditos.