Meta de lucro de 30% da Microsoft leva a cortes, cancelamentos e alta de preço no Xbox

Microsoft busca margem de lucro de 30% no Xbox, gerando cortes, cancelamentos e aumento de preços, priorizando projetos seguros em detrimento da inovação e criatividade.
Escrito por:
Lucas Amaral

Um novo relatório da Bloomberg trouxe à tona o que já vinha sendo sentido dentro e fora dos estúdios Xbox: a Microsoft definiu uma meta de margem de lucro de 30% para o braço de jogos, bem acima da média da indústria, e isso está moldando decisões estratégicas — desde cortes de pessoal até mudanças na linha de produtos. O resultado foi uma série de demissões em massa, cancelamentos de projetos de alta visibilidade e alterações de preço que mexeram com a percepção dos jogadores. Isso tudo enquanto a empresa tenta integrar a compra bilionária da Activision Blizzard e equilibrar criatividade com sustentabilidade financeira. Será que exigir 30% de lucro faz sentido num setor que vive de risco criativo?

Cortes, cancelamentos e preços — a consequência prática

Nos últimos anos, o impacto foi brutal: títulos como Everwild (Rare) e o reboot de Perfect Dark (The Initiative) foram cancelados após anos em desenvolvimento. Projetos da ZeniMax Online e estúdios como Arkane Austin e Tango Gameworks também sofreram cortes ou fechamento. Além disso, houve aumento de preço no hardware — os consoles Xbox Series X|S subiram — e o Game Pass Ultimate foi elevado para US$29,99 mensais, numa mudança que gerou polêmica entre assinantes. A tentativa de empurrar jogos a US$80 começou e foi parcialmente revertida para US$70 após reação dos fãs, mas a expectativa é de que os preços continuem subindo no futuro próximo. Definir metas de lucro tão agressivas transforma o pipeline: jogos baratos e “garantidos” passam a ter prioridade sobre projetos arriscados e inovadores.

A Bloomberg lembra que a margem média da indústria fica entre 17% e 22%, e que a divisão Xbox vinha operando entre 10% e 20% nos últimos seis anos. Para efeito de comparação, a divisão PlayStation da Sony teve 16% de margem no primeiro trimestre fiscal de 2025. Segundo a matéria, a meta de 30% foi reforçada pela diretora financeira da Microsoft, Amy Hood, no outono de 2023, em meio à aquisição de US$69 bilhões da Activision Blizzard.

“Olhamos o negócio como um todo, equilibrando criatividade, inovação e sustentabilidade através de um portfólio diverso de ofertas. Como qualquer negócio criativo, às vezes isso significa tomar decisões difíceis e parar trabalhos que não estão mais funcionando por uma variedade de razões, e mudar recursos para projetos que estão mais alinhados com nossa direção e prioridades.” — Microsoft

O futuro do Xbox e do hardware

Comentários internos também apontam para uma redefinição da divisão de hardware. A presidente do Xbox, Sarah Bond, disse que o próximo console será “uma experiência muito premium, muito de alta qualidade e curada”. “Será uma experiência muito premium, muito de alta qualidade e curada.” — Sarah Bond, presidente do Xbox Mas ela também chamou a ideia de exclusivos de “antiquada”, o que mostra que a estratégia será menos sobre fechar portas e mais sobre maximizar retornos em múltiplas plataformas.

O resultado prático até aqui foi uma priorização clara por títulos com maior probabilidade de retorno financeiro imediato, em detrimento de apostas criativas de longo prazo. Resta saber se essa abordagem vai garantir sustentabilidade financeira sem sacrificar a identidade criativa que cativa jogadores — e se esse modelo é o melhor caminho para competir num mercado onde inovação e risco são moeda corrente. Você prefere games seguros e rentáveis ou investimentos maiores em novas experiências arriscadas?