Vivemos um momento curioso: os handhelds para PC saíram do nicho e viraram alternativas reais ao notebook gamer — ao menos no meu uso diário. Levo meu Steam (e outras lojas) no bolso quando saio da mesa, e esses aparelhos acabaram substituindo boa parte dos usos que eu dava a um laptop pesadão em viagens curtas ou no trajeto. Então fica a pergunta óbvia: por que, em 2025, eu ainda compraria um notebook gamer quando os handhelds ficam mais potentes e portáteis a cada geração? Será que notebooks estão com os dias contados? Vamos destrinchar isso com calma — sem firulas.
Os handhelds evoluíram — e rápido
A ideia de um PC de bolso não é nova; tem quem trace a linhagem até o Pandora lá em 2010. Mas foi o Steam Deck que realmente empurrou essa categoria para o mainstream: preço acessível, experiência amigável e uma curva de aprendizado baixa. Desde então, fabricantes como Lenovo, Asus e até a Microsoft (com o Xbox Ally X/ROG Ally) mergulharam no mercado. O resultado? Opções variadas de hardware, tamanhos e interfaces.
Técnicamente, a arquitetura AMD/Intel móvel atual e os chips gráficos dedicados ou semi-dedicados estão entregando um nível de desempenho que, há poucos anos, parecia impossível em algo tão pequeno. Você consegue rodar praticamente qualquer jogo da sua biblioteca, desde RPGs até shooters competitivos, desde que aceite um compromisso em qualidade gráfica — resolução mais baixa, ajustes de textura, sombras e filtros. Em suma: para jogar fora de casa, não dá mais necessariamente para justificar o peso e o tamanho de um notebook.
Os handhelds tornaram-se dispositivos primários para sessões rápidas e portáteis — e fazem isso muito bem.
Mas há nuance: nem todo handheld é barato. Empresas que não subsidiam hardware com vendas de serviços tendem a cobrar mais, e modelos premium (Xbox Ally X, Legion Go 2, etc.) já chegam com etiqueta de preço que se aproxima de notebooks médios. A diferença passou de abismo para um fosso estreito.
O problema do preço
Historicamente, notebooks gamers sempre foram caros. Mesmo o “entry-level” atual, como o Acer Nitro V, parte de valores que hoje beiram a US$900 com uma RTX 5050 e CPU Core i7. No topo, temos bichos como o Razer Blade 16: design fino, performance alta, mas preços a partir de US$1.899 com RTX 5060 — e configuráveis até um RTX 5090 por US$4.499. Sim, isso compra potência bem acima do que qualquer handheld atual pode oferecer.
Então onde está a equação? Handhelds se destacam por portabilidade e preço-benefício em usos secundários; notebooks dominam quando você precisa de potência bruta e versatilidade. Mas com handhelds ficando mais caros, surge a zona cinzenta: se um aparelho de bolso custa quase quanto um notebook de entrada, qual eu escolho? A resposta depende do que você realmente precisa jogar e fazer.
Se tudo o que você quer é jogar na estrada, talvez o handheld faça mais sentido. Se você precisa produzir, editar ou jogar no máximo, o notebook ainda vence.
Handhelds como complemento, não substituto completo
Minha rotina mostra bem isso: uso handhelds o tempo todo — já revi vários —, mas sempre volto para o PC. Não é só sobre rodar jogos; é sobre fluxo de trabalho. Um notebook (ou desktop) é a ferramenta principal: jogo, edito vídeo, faço livestream e respondo e-mails sem ter de ligar periféricos toda hora. Handhelds foram concebidos, inicialmente, como dispositivos secundários — companheiros para quando você não está na mesa. E isso se vendeu muito bem quando o Steam Deck saiu por US$529 com SSD de 256 GB: acessível o bastante para ser um “segundo PC”.
Pergunto de novo: vale pagar quase o mesmo por um aparelho que faz 70–80% do que um notebook entrega? Ou você prefere o conforto de ter um único dispositivo que atende a tudo?
A experiência de uso também pesa. A Xbox Full Screen Experience, por exemplo, melhora bastante a navegação com controle no Windows, criando uma interface tipo console. Mas ainda é uma camada limitada: se você quer usar o handheld como PC de trabalho, vai terminar no desktop do Windows, conectando teclado, mouse e provavelmente um monitor externo. Essas etapas tornam o processo menos prático do que abrir o laptop e começar a digitar. Em outras palavras, handhelds podem ser PCs completos, mas exigem sacrifícios de ergonomia e fluxo.
Por que os notebooks ainda importam
Notebooks gamers não são só sobre GPU e CPU mais fortes; são sobre produtividade, armazenamento robusto, termal mais eficiente e telas maiores com taxas de atualização. Para quem trabalha com Adobe Premiere entre sessões de World of Warcraft, ou precisa rodar múltiplas VMs, o handheld simplesmente não foi projetado para ser essa estação única — ainda.
Além disso, atualizações de hardware e vida útil contam. Um chassi de notebook permite melhores soluções térmicas e GPUs que mantêm maior desempenho por mais tempo. Handhelds, por serem compactos, enfrentam limitações físicas claras: throttling térmico mais rápido, menos espaço para bateria grande e opções de upgrade limitadas.
Mas isso não quer dizer que notebooks vão sumir amanhã. Eles continuam sendo a escolha óbvia para quem quer um PC que abra mão do desktop sem abrir mão da potência. Handhelds são excelentes para quem já tem um PC em casa e quer algo portátil para viajar ou ficar deitado no sofá. São complementares, não necessariamente rivais diretos — ao menos por enquanto.
Como leitor que curte shooters competitivos e quer taxa de quadros estáveis, você pensa em quantos concessions está disposto a fazer: qualidade gráfica vs. portabilidade? Conexões e periféricos vs. praticidade imediata? Esses são os trade-offs que definem a compra.
Jackie Thomas é editora de Hardware e Guias de Compra do IGN e a rainha dos componentes de PC.
No fim das contas, a escolha vem de prioridades claras: se você precisa de um único aparelho para tudo, o notebook gamer ainda é o caminho lógico. Se quer um segundo dispositivo para jogar na rua, no trem ou na cama sem carregar um trambolho, o handheld faz sentido — e faz muito sentido. Só me pergunto: faz sentido pagar quase o mesmo por um dispositivo que só faz parte do trabalho? As marcas precisam pensar nisso. Se os preços dos handhelds continuarem subindo até se igualarem aos notebooks, o mercado terá que justificar melhor por que escolher um aparelho tão pequeno em vez de uma máquina mais capaz e versátil. E você — em qual lado você está?