A divulgação do spin-off de Palworld, batizado de Palfarm, pela Pocketpair caiu como uma pedra no lago: foi anunciada uma semana depois da Nintendo revelar Pokémon Pokopia, outro spin-off focado em agricultura e vida tranquila. O momento gerou bastante barulho — e um debate que mistura defesa de propriedade intelectual, planejamento de marketing e uma boa dose de teoria da conspiração dos fãs. Mas será que tudo isso passa de barulho online, ou tem algo realmente estratégico por trás do anúncio? Vou destrinchar o que foi dito, o que mudou no jogo e por que a discussão importa para quem acompanha jogos de ação e simulação.
O que é Palfarm e como se compara ao Pokopia
A Pocketpair apresentou Palfarm como uma extensão co-op/solo de Palworld com foco em fazenda: no game você trabalha com Pals para transformar campos em fazendas funcionais, delegando tarefas como plantar, cuidar e colher, além de interagir com NPCs e descobrir histórias locais. “Delegate duties to plant seeds, tend to growing plants, and round up the harvest,” disse a Pocketpair. Entre os avisos de praxe, os desenvolvedores também brincam que “a fofura pode virar caos — cuidado com Pals selvagens que roubam a produção”. Já a Nintendo descreveu Pokémon Pokopia como “um jogo de simulação de vida onde os jogadores podem criar seu próprio paraíso Pokémon”, tendo Ditto como protagonista humanoide que aprende habilidades de outros Pokémon para ajudar nas tarefas agrícolas. “As Ditto, players can explore and learn moves from the Pokémon they befriend — such as Bulbasaur’s Leafage …,” explicou a Nintendo.
O cerne da comparação é óbvio: dois jogos cozy farming com criaturas que auxiliam em tarefas. Mas mecânica é mecânica; ambientação e foco também contam. Palfarm chega de PC, Paltopia (Pokopia) vem pro Switch 2 em 2026. O anúncio perto demais do da Nintendo acabou acionando alarmes entre fãs e redes sociais. E aí vem a pergunta que não quer calar: Pocketpair lançou isso por vingança, estratégia de marketing ou pura coincidência cronológica? Afinal, jogos demoram anos para serem feitos — como alguém poderia copiar outro em poucos dias?
Reações, acusações e a resposta oficial
No Reddit e em outras redes, comentários variaram entre respeito pela coragem e acusações de oportunismo. Usuários escreveram coisas como “The timing of this just after the Pokémon Pokopia announcement. They got balls, I respect that,” disse o redditor Sweaty_Molasses_3899 ou “They probably felt they needed to announce this earlier than they might have wanted simply to get ahead of accusations of ‘copying’ their idea for a farm-sim game after Pokopia got announced,” sugeriu KJShen. Houve quem interpretasse o anúncio como provocação: “I feel like this announcement is to spite Nintendo for their recent bs,” escreveu Brohtworst, e críticas mais duras como “It’s so uninspired to make a game that’s more about one upping a company than actually making something good,” declarou stcrIight.
John “Bucky” Buckley, diretor de comunicações e publishing da Pocketpair, foi à rede responder e deixou claro o tom da empresa. “the tinfoil hats are out in force… A certain % of silliness and grumpy people were expected when announcing Palfarm, and a smaller % of ‘REEEE POCKETPAIR’ was expected too… But I’m surprised how many people think we’re wizard-level developers able to make a game in one week,” disse John ‘Bucky’ Buckley nas redes. Ele resumiu a ironia: “There is a certain level of poetic irony… the same people who ‘REEE POCKETPAIR’ are the same people thinking we made an entire game in one week. ‘Schrödinger’s Pocketpair’ I guess. We are both a ‘slop company’ and capable of making entire games in one week it seems,” escreveu ele. É difícil levar a sério a alegação de cópia instantânea quando o desenvolvimento leva anos e anúncios são planejados com antecedência.
Além da narrativa pública, há um pano de fundo legal que explica parte da tensão. Depois do lançamento explosivo de Palworld em 2024, nomenclaturas e mecânicas levaram fãs a apelidar o jogo de “Pokémon com armas”, o que culminou numa ação judicial da Nintendo e da The Pokémon Company. A disputa envolve três patentes concedidas pelo Escritório de Patentes do Japão — duas sobre captura/liberação de monstros e uma sobre montar personagens — que, embora deferidas em 2024, derivam de patentes originais de 2021. Ou seja: especialistas avaliam que a Nintendo usou patentes divisionais para combater especificamente alegações relacionadas ao Palworld.
A Pocketpair não ficou parada. Várias mudanças foram implementadas para mitigar riscos no caso: em novembro de 2024 foi removida a mecânica de invocar Pals com esferas parecidas com Pokéballs (agora Pals simplesmente materializam-se ao lado do jogador). Em maio, o sistema de planar foi alterado: agora usa-se equipamento de planar com bonus de Pal em vez de agarrar diretamente Pals que servem como asas. Em julho, a Nintendo chegou a reescrever parte de uma patente envolvida no processo. Essas alterações mostram que, independentemente das narrativas públicas, o jogo está sendo adaptado por motivos legais e de design.
No front de desenvolvimento, a Pocketpair afirmou que está focada em tirar Palworld do acesso antecipado e lançar sua versão 1.0 em 2026, com um update gigantesco planejado para acompanhar o lançamento. Em paralelo, a empresa continua a se defender no tribunal — e a narrativa do público oscila entre apoio e crítica.
O que resta para os jogadores e observadores técnicos? Primeiro, separar barulho de fato: anúncios próximos podem ser coincidência, estratégia de calendário ou reação. Segundo, olhar para as mudanças de mecânica como decisões de design influenciadas por risco legal e feedback da comunidade. E por fim, observar a execução: ideias semelhantes abundam no mercado, mas quem ganha é quem entrega uma jogabilidade polida, performance estável e visão própria — não apenas quem solta anúncio em bom timing. Quem aí está curioso para ver qual spin-off vai entregar o melhor equilíbrio entre “fofo” e “mecânica sólida”?