A Pocketpair, estúdio por trás de Palworld, fechou a porta para projetos que envolvam NFTs, Web3 ou o que chamaram de “coisas grandes de IA”. A declaração vem direto do departamento de publishing da empresa — um posicionamento claro num momento em que a indústria está dividida entre abraçar ferramentas genéricas de inteligência artificial ou recusar tudo que cheire a automação e tokenização. O debate não é só filosófico: é comercial e estratégico. Querem um parceiro que defenda autenticidade e processos manuais? Ótimo. Quer experimentar com IA generativa ou integrar NFTs? Procurem outro publisher.
Por que a Pocketpair decidiu dizer não
John “Bucky” Buckley, diretor de comunicação e gerente de publishing da Pocketpair, deixou a linha dura explícita. “As pessoas vão dizer que estou mentindo, mas estes são apenas os fatos. Nós não acreditamos nisso. Somos muito transparentes sobre isso. Se você é fã de coisas grandes de IA ou seu jogo é Web3 ou usa NFTs, há muitos publishers por aí [que vão conversar com você], mas não somos o parceiro certo para isso.” A frase é curta e pragmática: a companhia quer distância de modelos de negócio que, na visão deles, corroem confiança do público ou pioram a qualidade do catálogo.
Buckley também traçou um cenário quase premonitório sobre o que vem no Steam: uma enxurrada de jogos de baixa qualidade gerados por IA. “Acho que nos próximos dois ou três anos vamos entrar nessa era estranha — e você já pode ver isso acontecendo no Steam — de jogos de qualidade muito baixa, feitos por IA.” E completou com uma visão de mercado: “vamos entrar num mercado da autenticidade onde as pessoas vão dizer ‘esses aqui tentaram realmente fazer algo especial’”. É uma aposta: autenticidade como diferencial competitivo.
Acusações e sensibilidade
A Pocketpair está especialmente sensível ao tema por já ter sido acusada de usar IA em Palworld — acusações que o estúdio nega. Buckley criticou a lógica por trás de uma das acusações: “Um dos maiores ‘evidências’ era que, por não termos publicado os nomes individuais dos tradutores, devia ser IA. Não, isso é apenas cultura japonesa ruim em geral. Muitos jogos japoneses creditam que a localização foi feita por uma empresa.” Ele evita confrontos diretos para não dar combustível às teorias, mas deixa claro que a defesa é necessária.
O assunto é polarizador. De um lado, criadores como Motoi Okamoto, produtor de Silent Hill, dizem que “a IA nunca seria capaz de criar” uma sequência como Silent Hill f. Do outro, nomes como Glen Schofield e Meghan Morgan Juinio veem a IA como ferramenta: “Acho que, se não abraçarmos [a IA], estaremos nos limitando. A IA é uma ferramenta e pode nos complementar…” — Meghan Morgan Juinio. Até Tim Sweeney aposta alto: “em breve times pequenos poderão usar prompts de IA para criar jogos no nível de Breath of the Wild” — Tim Sweeney.
Qual a conclusão prática disso para desenvolvedores e jogadores? Se você busca um publisher que priorize trabalhos “manuais”, com foco em qualidade percebida e controle editorial, a Pocketpair deixa claro que é desse time. Quer experimentar com IA ou Web3? Há espaço — mas não com eles. No fim, a indústria vai bifurcar: haverá quem use IA para acelerar produção e quem prefira preservar processos tradicionais para manter uma assinatura autoral. E você, prefere velocidade e automação ou autenticidade e curadoria rigorosa? Essa é a grande pergunta que vai definir onde cada estúdio vai jogar suas fichas.