Space Marine 2 levou fãs a “suposições” erradas sobre Warhammer 40K, diz Tim Willits

Space Marine 2 deu ao público apenas uma fatia do universo Warhammer 40,000: o capítulo Ultramarines contra duas ameaças — os Tyranids e a legião traidora Thousand Sons. Isso, segundo o próprio desenvolvedor, gerou “suposições” sobre o cenário que simplesmente não são verdadeiras e que se espalharam graças ao enorme sucesso do jogo. Mas por que tanta confusão? E o que isso diz sobre a responsabilidade de jogos AAA ao representar universos complexos?

“Ouvi dizer que muita gente agora pensa que os Thousand Sons são a única facção do Caos porque foi isso que tivemos no jogo”, disse Tim Willits, chefe de desenvolvimento da Saber Interactive, em entrevista na gamescom 2025. A observação é direta: para muitos novatos, a primeira — e às vezes única — experiência com Warhammer 40K vem de Space Marine 2. Sem um contexto mais amplo, é fácil assumir que aquilo é o todo do universo.

Space Marine 2 apresentou só uma fatia do universo — Ultramarines vs Tyranids e Thousand Sons. Isso funciona como porta de entrada, mas também cria uma narrativa enviesada. O Caos, por exemplo, não é um bloco homogêneo: existem as legiões traidoras clássicas como a Black Legion de Abaddon (provavelmente o antagonista mais emblemático), Death Guard, Emperor’s Children, Iron Warriors, Night Lords, World Eaters, Word Bearers, Alpha Legion — além de inúmeras bandas menores, renegados e cultos que flutuam entre facções maiores. Sim, é muita coisa. Quer entender como isso impacta a jogabilidade e o lore? Pense em como inimigos variados exigem design de encontros diferentes: IA, mecânicas únicas, balanceamento de armas e escolhas de animação.

“As pessoas têm suposições sobre o universo Warhammer 40,000 que não são corretas”, continuou Willits. “Como Thousand Sons sendo a única facção do Caos. Isso é meio engraçado. E também: ‘Oh, Space Marines são só azuis!’ Isso tem sido bem engraçado, na verdade, o que é bom pra gente.” A fala traz dois pontos importantes: humor e oportunidade. Saber Interactive lucrou com a atenção — e o universo ganhou novos fãs. O sucesso do jogo não só vendeu cópias, mas reintroduziu Warhammer 40K para uma nova geração de jogadores.

Do ponto de vista técnico, isso mostra algo que eu sempre ressalto em análises: visibilidade leva a interpretação simplificada. Quando um estúdio foca narrativa e recursos em Ultramarines e Thousand Sons, cada elemento de design — do som dos disparos à paleta de cores — condiciona a percepção do público. Muitos jogadores não vão ler wikis ou buscar lore adicional; eles absorvem o que está na tela. Por isso, licenciamento e cross-media são cruciais. Caso em questão: Lieutenant Titus não só virou figura central do jogo, como ganhou uma miniatura oficial para o tabletop e teve destaque no excelente episódio de Warhammer 40,000 na antologia animada Secret Level da Amazon. Games Workshop também surfou essa onda: lojas relataram um influxo de novatos citando Space Marine 2 como porta de entrada, e a empresa anunciou até um capacete oficial inspirado em Titus.

E o futuro? Space Marine 3 e as possibilidades

A pergunta óbvia é se o próximo capítulo vai expandir o leque de facções. No fim da campanha de Space Marine 2 há pistas que podem justificar a chegada dos Necrons — e isso não seria surpresa para ninguém disposto a analisar as breadcrumbs narrativas. Mas será que veremos outras legiões traidoras, capítulos de Space Marines distintos ou até facções inteiramente diferentes como Drukhari, Genestealer Cults, T’au ou Aeldari? A equipe da Saber ficou reticente sobre detalhes: não houve confirmação, apenas aquele clássico silêncio de estúdio que diz muito sem falar nada.

Para quem gosta de análise técnica, isso é instigante: cada nova facção exige investimentos em modelagem, animação, sistemas de inimigo únicos e balanceamento de PvP/PvE. Necrons, por exemplo, trariam mecânicas de ressurgimento e armaduras pesadas que mudariam completamente o ritmo dos combates; Drukhari trariam mobilidade extrema e táticas de hit-and-run; Genestealer Cults focariam em hordas e infiltração. Qual é a sua aposta? Qual inimigo você quer ver e por quê?

O fenômeno todo deixa uma lição clara: jogos de grande alcance têm poder de moldar percepções do público sobre universos inteiros. Saber Interactive trouxe muita gente para Warhammer 40K — ótimo para o hobby —, mas também criou mitos que vão precisar ser desfeitos ou ampliados nos próximos lançamentos. Isso é um desafio narrativo e técnico que pode virar oportunidade criativa. Afinal, quando se trata de grimdark, há espaço para muito mais do que apenas azul e mago telepata.