Subnautica 2 corre risco após Krafton acusar ex-CEO de referir opiniões racistas em julgamento nos EUA

O julgamento entre Krafton e ex-chefes da Unknown Worlds afeta Subnautica 2, gerando incertezas sobre seu lançamento, estabilidade técnica e qualidade, preocupando a comunidade brasileira.
Escrito por:
Lucas Amaral

O julgamento que pode moldar o futuro de Subnautica terminou com acusações pesadas de ambos os lados — e a comunidade brasileira que acompanha a franquia tem todo o direito de ficar apreensiva. De um lado, a Krafton (mega corp sul-coreana) acusa os ex-chefes da Unknown Worlds de má conduta, paralisia de trabalho e até furto de informações; do outro, os fundadores Charlie Cleveland, Max McGuire e Ted Gill dizem que foram demitidos para evitar pagar um bônus que alegam ser devido. No meio disso tudo está Subnautica 2, um jogo que muitos no Brasil e no mundo esperavam ver em early access ainda este ano. E aí, será que a treta vai bagunçar o jogo que prometia ser o sucessor técnico e artístico do primeiro título?

O que rolou no tribunal

O caso foi julgado em Delaware, nos EUA, e acabou com trocas duras. A Krafton afirma que os ex-executivos tinham parado de trabalhar bem antes da demissão e que Subnautica 2 não estava pronto para lançamento. Já os fundadores dizem que o jogo estava pronto para early access e que a demissão foi uma manobra para evitar pagar um suposto earnout de 250 milhões de dólares. Além disso, Krafton alega que informações relacionadas ao desenvolvimento de Subnautica foram baixadas pelos executivos antes da saída — algo que, se confirmado, tem implicações técnicas sérias para propriedade intelectual e integridade de ativos.

Um documento chamado “Litigation Help” foi exibido no tribunal com anotações de Cleveland datadas de 28 de junho de 2025. Nele constavam conselhos supostamente dados por Owen Mahoney (ex-CEO da Nexon), e frases que Krafton classificou como “visões racistas” em relação à Coreia e ao povo coreano. Cleveland admitiu ter escrito a transcrição, mas insistiu que eram palavras ditas por Mahoney, não por ele. Em sua defesa, ele disse que estava apenas anotando o que ouviu.

“Essas não são minhas palavras. São transcrições do que nos foi aconselhado — palavras saídas da boca de outras duas pessoas, não minhas.” — Charlie Cleveland

Os trechos do documento incluíam falas que sugeriam desconstruir a imagem da Krafton em cortes de Delaware e menções grosseiras sobre a Coreia, como a ideia de que “Delaware? Ah, eles estão ferrados. Você nem precisa de um advogado coreano” e comparações depreciativas. Krafton usou isso para alegar que havia um plano de litígio preparado e uma narrativa anti-Krafton a ser construída, inclusive sugerindo um valor de cobrança de 1 bilhão de dólares em “sofrimento emocional e danos”, muito acima do earnout original.

Trechos do interrogatório e as alegações técnicas

Durante o contra-interrogatório na quarta-feira, 19 de novembro, perguntas diretas tentaram ligar as ações dos fundadores à preparação de uma eventual disputa legal. Um ponto que chamou atenção foi a conversa sobre a conta de ChatGPT da empresa e a busca por possíveis materiais incriminadores — algo que levanta bandeiras sobre como dados e conversas internas foram tratados.

“Lembrete rápido: verifique sua conta ChatGPT da empresa para ter certeza de que não há nada incriminador lá.” — anotações de Charlie Cleveland

Na troca com o advogado da Krafton, John Del Monaco, a linha do questionamento foi objetiva:


“Na coluna direita você escreveu ‘Lembrete rápido: verifique sua conta ChatGPT da empresa para ter certeza de que não há nada incriminador lá’ — certo?” — John Del Monaco (advogado da Krafton)

“Sim.” — Charlie Cleveland

“Então além de baixar indiscriminadamente todos os arquivos da empresa, você também estava checando o que poderia ser incriminador; certo?” — John Del Monaco

“Como eu disse, eu queria ter ciência de como eles iam nos atacar.” — Charlie Cleveland

“Você estava se antecipando ao jogo?” — John Del Monaco

“Queríamos ver o que tinha lá, sim.” — Charlie Cleveland

Outra testemunha de destaque foi Aaryn Flynn (atual CEO da Inflexion Games e ex-executivo da BioWare), convocado como especialista pela Krafton. Em resumo, Flynn afirmou que as ações atribuídas aos ex-chefes da Unknown Worlds não condizem com as normas da indústria nem com o que se espera de líderes em posições seniores.

“As ações não estavam de acordo com as normas da indústria e não atendiam às expectativas que se espera de pessoas nesses cargos.” — Aaryn Flynn

Krafton, por sua vez, em declaração pública traduzida para o português afirmou estar confiante e enfatizou que agiu por necessidade após constatar falta de interesse dos fundadores no desenvolvimento do jogo.

“Somos gratos ao tribunal por seu compromisso em entender os fatos, e confiamos que demonstramos nosso compromisso em entregar o melhor jogo possível aos nossos fãs. Deixamos claro que fomos forçados a fazer uma mudança quando os antigos líderes mostraram pouco interesse no desenvolvimento de Subnautica 2, que sempre foi nossa prioridade. Agora, esse processo se resume a pedidos de reintegração por parte de quem dizia não querer esses cargos. Estamos empolgados para compartilhar progressos com os fãs.” — Krafton

O que isso significa para Subnautica 2 (e para nós, jogadores)?

Aqui é onde eu, como jogador e analista técnico, levanto a mão e pergunto: e o jogo, vai sair polido ou vai chegar como um early access problemático? Subnautica é um projeto tecnicamente exigente — mundo aberto subaquático, física de fluidos, iluminação volumétrica, draw distances, efeitos de partículas, e problemas de performance que podem explodir em consoles e PCs menos otimizados. Se o time sênior realmente se desligou do trabalho, isso pode ter impacto direto em áreas críticas como otimização de CPU/GPU, streaming de assets e estabilidade de servidores (no caso de conteúdo multiplayer ou sincronização cloud).

Subnautica 2 pronto para o early access ou não: isso define muito do que esperamos em estabilidade e otimização. Um lançamento apressado ou com pessoal chave ausente normalmente significa concessões técnicas: mipmaps mal configurados, gargalos de CPU em pathfinding, leaks de memória, e quedas de framerate nas áreas mais densas do cenário. E se ativos ou códigos sensíveis foram de fato copiados, há o risco de vazamento de tecnologia proprietária — o que complica reposicionamento de builds e auditorias técnicas.

Além disso, a incerteza jurídica costuma frear atualizações, marketing e suporte pós-lançamento — fatores que afetam diretamente a popularidade do título no Brasil, onde a comunidade costuma julgar jogos por estabilidade, suporte e roadmap de conteúdo. Numa época em que muitos brasileiros jogam em consoles como Xbox Series X e PCs com hardware variável, a promessa de um jogo tecnicamente robusto precisa vir acompanhada de provas reais, não só de palavras.

Se o time original voltar, qual o impacto real na qualidade técnica do jogo? Voltar não é só retomar código; é recuperar know-how, pipelines de build, otimizações específicas e contexto de decisão artística. Por outro lado, se a Krafton já ajustou o time e acelerou o desenvolvimento, podemos ver uma versão mais controlada, mas talvez menos fiel à visão original.

O julgamento continua com prazo para argumentos pós-julgamento em 9 de janeiro de 2026, e a decisão final deve seguir depois disso — com possibilidade de acordo a qualquer momento. Enquanto isso, a comunidade fica na espera, e os devs fora do olho público precisam seguir entregando o que for possível sem que o ruído jurídico comprometa a qualidade final.

Quem acompanha de perto sabe: nenhum bom jogo nasce sem estabilidade técnica e time comprometido. E você, leitor: confia mais na narrativa dos fundadores ou na versão da Krafton? Qual impacto você acha que esse tipo de disputa tem no desenvolvimento técnico de um jogo tão ambicioso?