Ano passado foi fogo no parquinho do universo Assassin’s Creed — e agora o próprio chefe da Ubisoft, Yves Guillemot, explicou por que o estalo foi tão grande que acabou empurrando Assassin’s Creed Shadows do lançamento de novembro de 2024 para março de 2025. A história mistura jogo, política, internet em chamas e até Elon Musk dando pitaco no X! Como a conversa saiu do gameplay e foi parar na ideologia, e o que isso significa pra nós, jogadores brasileiros, que amamos um mundo aberto caprichado? Bora destrinchar isso!
O que aconteceu nos bastidores?
Segundo Guillemot, a reação ao co-protagonista Yasuke — um samurai negro inserido no universo do jogo — fugiu do controle das discussões técnicas e virou um debate ideológico pesado. Em uma apresentação na Paris Games Week, ele exibiu um vídeo interno da Ubisoft que explicava a resposta da empresa à onda de ódio e desinformação, que chegou a atrair comentários do dono da Tesla e do X, Elon Musk. “Percebemos que a conversa mudou do gameplay para a ideologia”, disse Yves Guillemot. Isso forçou a empresa a repensar a estratégia: adiar o lançamento não só para polir o jogo, mas para recuperar o sentimento positivo do público.
O que parece simples — dar mais tempo para “polir” — era também uma jogada de imagem e de relacionamento com a comunidade. A decisão de adiar não foi só sobre polir o jogo: foi sobre reconstruir confiança e recolocar os ícones de Assassin’s Creed onde os fãs reconhecem. A Ubisoft usou o tempo extra para mostrar mais do jogo antes de lançar, reforçando elementos clássicos da franquia: capuz, stealth, salto de fé e muita lore. Segundo Guillemot, isso ajudou a deslocar a conversa para o que realmente interessa pra grande maioria dos jogadores: a experiência dentro do jogo.
No vídeo interno, a Ubisoft coloca o processo assim: “Quando a conversa muda do gameplay para a ideologia, tudo que você diz muitas vezes só joga mais lenha na fogueira. Para sair do canto, tivemos que parar de focar naqueles que nos odiavam e acender nossos aliados.” — vídeo interno da Ubisoft. Eles afirmam que, ao mostrar mais do próprio jogo em vez de tentar calar críticos, a comunidade voltou a se envolver com o conteúdo real, e as brigas diminuíram.
Mas nem tudo é conto de fadas corporativo. Relatos da época apontavam que o delay já era esperado internamente para corrigir problemas apontados em playtests e mock reviews (consultorias que simulam análises da imprensa). O jornalista Mark/Insider Gaming e ex-chefe da franquia também trouxeram contexto: “O adiamento era necessário para mudar a narrativa sobre a inconsistência na qualidade” — Marc-Alexis Coté. Ou seja, além do barulho ideológico, havia questões técnicas e de reputação que precisavam de solução.
Além disso, há um ponto meio sombrio que Guillemot não mencionou: reports indicaram que a Ubisoft teria cancelado um outro projeto de Assassin’s Creed, ambientado na América pós-Guerra Civil, com protagonista ex-escravo — algo que teria sido considerado arriscado diante do clima político nos EUA e do backlash que a empresa vinha sofrendo. Isso levanta a questão: que histórias as grandes produtoras se sentem capazes de contar hoje sem medo de retaliação midiática?
No fim das contas, Ubisoft conseguiu virar a conversa — até certo ponto — mostrando mais do que apenas palavras; mostrou jogo. E isso funcionou o suficiente: em julho, a própria Ubisoft reportou que Shadows vendeu “dentro do esperado”, com 5 milhões de cópias vendidas. Dá pra chamar de sucesso? Depende do que se espera de uma franquia desse calibre, mas certamente evitaram o pior cenário.
E o que isso significa pro jogador brasileiro? A gente vive numa comunidade de criadores e influenciadores fervilhante — streams, vídeos, memes e discussões que pegam fogo em minutos! Quando uma empresa decide adiar, às vezes é só marketing, às vezes é polir a experiência, e às vezes é reação a uma tempestade política. Aqui no Brasil, onde debates culturais também são intensos, é importante ficar esperto: olhar o jogo, testar (quando der), assistir às análises e não só consumir a narrativa que as empresas querem empurrar — ou a que a internet inflama.
No fim, a lição é dupla: jogos são produtos culturais que mexem com identidade e pertencimento, e as corporações sabem disso — por isso fogem ou ajustam projetos quando o risco de boicote vira ameaça real. Mas também aprendeu-se que mostrar o que está no jogo pode acalmar (ou pelo menos mudar) uma conversa. E vocês, vão deixar o barulho da internet decidir por vocês, ou vão conferir por conta própria e formar opinião jogando? Quem aí já tá com o dedo coçando pra apertar o botão de comprar no lançamento?