Wolfenstein II: The New Colossus já tinha cenas memoráveis, mas uma delas quase entrou para o catálogo de decisões criativas mais arriscadas dos últimos anos: os desenvolvedores chegaram a planejar mostrar Adolf Hitler urinando — e contemplaram mostrar o órgão também, até que uma troca de mensagens com a Bethesda cortou a ideia. Esse tipo de escolha revela muito sobre como equipes equilibram choque, humor negro e os limites do bom senso em jogos AAA. Como transformar o “último nazista” em algo novo sem virar caricatura barata?
A cena em questão trabalha a humilhação física de Hitler como contraste direto à violência e à ideologia bélica do regime: ele come, vomita, fica furioso e termina urinando — tudo para torná-lo pequeno, ridículo, humano de uma forma que enfraquece a figura de autoridade. Mostrar a fraqueza física como ferramenta narrativa foi uma decisão de design consciente, não apenas choque por choque. Ainda assim, a tentação por ultrapassar limites esteve presente. Jerk Gustafsson: “Na verdade queríamos adicionar outro elemento — queríamos mostrar também o pênis de Hitler, quando ele estivesse urinando.” Ele continua explicando que acabou sendo “algo que foi um pouco demais, então decidimos pular essa parte”, reforçando a ideia de que a cena precisava mostrar fraqueza sem virar pornografia de sátira.
O cofundador Jens Matthies detalhou a intenção de tornar Hitler “extremamente físico”, o oposto do espiritual — uma abordagem prática e visual para subverter a iconografia. Jens Matthies: “O conceito em torno de Hitler era que ele seria extremamente físico. Se você tem um inimigo nazista — ou, nesse caso… o nazista definitivo — como tornar algo único nisso?” A discussão sobre mostrar ou não o órgão acabou sendo resolvida via Slack com Todd Vaughn, então VP de Produção da Bethesda. Todd Vaughn: “Sim, eu não aconselho fazer isso.” E Matthies resumiu: “Precisamos ser salvos de nós mesmos às vezes.”
Do ponto de vista técnico e narrativo, a cena funciona: animações, direção de cena e som convergem para o efeito cômico e repulsivo sem depender de choques gráficos extremos. Isso mantém classificação, evita polêmicas desnecessárias e ainda entrega um momento marcante. Foi uma escolha que protegeu a integridade do jogo e o impacto da cena ao mesmo tempo.
MachineGames saiu com mais um ótimo capítulo na franquia e deixou claro que ainda há história para contar — será que um terceiro jogo fecharia essa abordagem sombria e visceral do universo Wolfenstein? A resposta pode estar nas próximas conversas entre estúdio e publisher.